Suzana Barelli, jornalista especializada em vinhos, escreve em sua coluna especial para o Sonoma Market sobre as mudanças que estão transformando o mercado de vinhos no Brasil. Confira!
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Os novos brindes, Por Suzana Barelli

As mudanças que estão transformando o mercado de vinhos no Brasil

Por Suzana Barelli, especial para o Sonoma Market

O mercado brasileiro de vinho mudou. Ainda é cedo para saber qual será o perfil deste setor que movimenta R$ 20 bilhões por ano, algo como 0,2% do PIB nacional, em estimativa da Ideal Consulting. Mas o certo é que aquele mercado caracterizado pelo consumo pífio, abaixo dos 2 litros por habitante por ano, liderado pelas importadoras distribuidoras, e com muito preconceito com os próprios vinhos brasileiros, está saindo de cena.

Desenha-se um novo mercado de vinho, que tende a ser liderado pelos canais de venda que consigam falar diretamente com o consumidor. E aqui, ao menos por enquanto, os e-commerce são o melhor exemplo. Cresce, também, o espaço para vinhos mais descomplicados, seja nos rótulos divertidos e com mensagens mais simples; nas embalagens até recentemente impensáveis, como o vinho em lata, e até em novas categorias da bebida propriamente dita, como a red blend e seus tintos mais doces, entre outras.

A pandemia certamente contribuiu para esta mudança ao transformar o vinho na bebida oficial da quarentena. Mas pode-se perguntar se este período realmente trouxe os novos consumidores ou se ele apenas acelerou uma tendência que aconteceria em breve.

Certas características desta bebida, como seus benefícios para a saúde (tende a prevenir doenças cardiovasculares, por exemplo), a facilidade de harmonizar com comida, e o menor teor alcóolico, frente aos destilados, são chamarizes para novos consumidores que poderiam demorar a descobrir o vinho, mas acabariam chegando a ele, mesmo sem a pandemia do Coronavírus.

Ainda sem ter uma resposta conclusiva para esta questão, o fato é que, se em março de 2020, com a chegada do vírus no Brasil, houve uma quase paralisia nas importações, o setor logo reagiu ao perceber que os supermercados, um dos poucos canais de venda abertos na época, começavam a registrar a procura crescente por brancos e tintos.

Logo, as importações e a produção das vinícolas brasileiras voltaram a crescer. O recorde da importação foi em novembro do ano passado, quando mais de 2 milhões de caixas de 9 litros entraram no Brasil, algo como quase 25 milhões de garrafas apenas naquele mês, nos dados da Ideal.

Ao longo da quarentena, apenas os champanhes e demais vinhos espumantes registraram queda de consumo, por razões óbvias: são bebidas ainda muito ligadas às festas e às comemorações. Mas, com a chegada das vacinas, a categoria já recupera suas vendas.

Felipe Galtaroca CEO da Ideal Consulting 1

Felipe Galtaroca CEO da Ideal Consulting

Este crescimento continua, mesmo que não na velocidade dos primeiros meses de quarentena. De janeiro a outubro de 2021, o volume total importado aumentou 12% em relação a igual período do ano passado. “O volume de vinhos deve terminar o ano próximo do total importado em 2020, cenário positivo depois do forte crescimento do ano passado”, conclui Felipe Galtaroça, CEO da Ideal Consulting. Nos vinhos brasileiros, problemas de infraestrutura e logística, como a falta de garrafas para o envase, por sua vez, dificultam atender a demanda por estes rótulos.

Concentração?

A liderança que as empresas de e-commerce assumiram é o fato mais visível deste novo mercado. As cinco maiores importadoras agora detém, juntas, quase 40% de participação. “As fusões das empresas geraram uma concentração de mercado”, afirma Galtaroça.

Em maio deste ano, o e-commerce Wine.com.br, o maior clube de assinaturas de vinho da América Latina, anunciou a compra da Cantu por R$ 180 milhões e chacoalhou o setor ao tirar a VCT, o braço brasileiro da gigante chilena Concha Y Toro, da liderança entre as maiores importadoras do nosso país. Menos de seis meses depois, a Evino anunciou a compra da Grand Cru, se tornando a terceira maior neste ranking.

Esta concentração, acrescenta Galtaroça, tem a particularidade de que agora as empresas líderes estão bastante focadas em entregar rentabilidade para seus acionistas e, não necessariamente, em focar em vinhos de qualidade. O perfil das empresas de e-commerce, não apenas as de vinho, mostra que elas precisam crescer constantemente para manter seu negócio lucrativo.

Em seus pronunciamentos, Wine e Evino prometem atuar tanto nos rótulos mais premiuns, que lhe trazem prestígio, como naqueles mais simples, muitos feitos especialmente para elas. O espanhol Toro Loco, que fez barulho por aqui quando a Wine decidiu criar esta linha de vinhos na década passada, indica um pouco este caminho, mesmo ele não integrando mais o portfolio da agora importadora líder (toda a linha Toro Loco está com a Interfood).

A Ambev, sim, a gigante de bebidas, é outro player que deve balançar este mercado muito em breve. A empresa criou uma divisão específica para se dedicar ao desenvolvimento de bebidas alcóolicas diferentes da cerveja, a Future Beverages and Beyond Beer, e contratou a executiva Daniela Cachich, especializada nas empresas de bens de consumo, para chefiar este setor. Ainda silenciosa, as ações da Ambev estão restritas a alguns segmentos, como se a companhia estivesse testando ou tentando entender este mercado.

Um exemplo são os vinhos em lata, com o rótulo Somm, elaborado em parceria com a vinícola brasileira Miolo e que tem o preço mais barato neste segmento (a latinha custa ao redor de R$ 10, contra os R$ 16 a R$ 20 dos demais concorrentes). Outro é a importação dos rótulos da Dante Robino, vinícola argentina que pertence a holding que controla a Ambev, com distribuição do aplicativo Zé Delivery, que pertence à cervejaria.

Pulverização

Mas estes grandes players não ocupam todo o espaço do mercado e, mesmo grandes, certamente não têm a força para ditar preços, como ocorre em setores monopolizados. “O mercado de vinho, por definição, é muito pulverizado”, destaca o consultor Rodrigo Lanari, representante no Brasil da inglesa Wine Intelligence.

Com tantas vinícolas no mundo, de incontáveis regiões produtoras, há espaço para pequenos e médios produtores e importadores, e também para os grandes não representados pelas empresas líderes.

Neste cenário, um dos maiores desafios é conseguir chegar aos novos consumidores, que estão contribuindo, de maneira significativa, para mudar o perfil deste mercado. Pesquisa da Wine Intelligence mostra que mais de 7 milhões de novos consumidores brasileiros chegaram ao vinho entre 2018 e 2020. É muita gente que passou a tomar vinho pelo menos uma vez ao mês. Foram 32 milhões de pessoas em 2018 e 39 milhões em 2020.

A pesquisa de 2021 será divulgada apenas em dezembro e, certamente, dará novas pistas sobre o perfil deste mercado em construção. A conferir.

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É com muita alegria que damos as boas-vindas à jornalista especializada em vinhos Suzana Barelli como colunista especial do Sonoma Market.

Suzana é atualmente colunista de vinhos do caderno Paladar, do jornal O Estado de S.Paulo. Ela escreve de vinhos desde o início dos anos 2.000. Foi editora de vinhos e diretora de redação da Revista Menu, e redatora-chefe da Revista Prazeres da Mesa. Também atuou como jornalista nas revistas Gula, Primeira Leitura e Carta Capital, e nos jornais Folha de S.Paulo e Valor Econômico.

 

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Co-fundador e CEO de Sonoma Market
Suzana Barelli

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