“Como os tempos mudaram”, comentou o editor do site jamessuckling.com Stuart Pigott em seu artigo sobre os melhores Rieslings de 2016. De acordo com Pigott, qualquer ranking de Rieslings duas décadas atrás seria dominado por vinhos doces, cenário este que mudou por completo em 2016. “No lugar deles, a Alemanha está se destacando muito mais na alta de qualidade em vinhos secos”, afirmou. Ainda na opinião do especialista, a mudança não tem a ver com modismo, mas é efeito das mudanças climáticas somadas a constante melhora na competência dos enólogos alemães para fazer vinhos secos.

O que você sabe sobre os vinhos da Alemanha?

Aprenda com a Sonoma a história do vinho na Alemanha, quais são as principais regiões vinícolas e variedades de uva do país, além de saber as melhores safras.

Produtores alemães estão elaborando vinhos, principalmente à base da uva Riesling, por milênia. A Rheingau, a região mais “velha guarda” e até mais famosa pela produção da uva, contêm com vários produtores, inclusive a Schloss Vollrads que estão fazendo vinhos intricos, e altissima qualidade, por muitos séculos. Porém, historicamente a produção desses vinhos nunca chegou aos volumes vistos nos países mediterâneos, e a maioria desses vinhos foram consumidos principalmente no mercado interno.

Os rumos da produção de vinho na Alemanha começaram a mudar, de fato, com a nova legislação para o fermentado de uva estabelecida em 1971. A lei criava o conceito de Qualitätswein bestimmter Anbaugebiete (QbA), similar ao modelo de apelação de origem francês, e de Prädikat, estimulando os produtores e conferirem a quantidade de açúcar na uva.

À época, a produção de vinho alemão explodiu: vinhos meio secos, baratos e com baixa graduação alcoólica eram exportados para o mundo inteiro, fazendo com que se associasse a imagem dos vinhos alemães muitas vezes à baixa qualidade desses exemplares. Se lembra do Liebfraumilch ou “vinho da garrafa azul”? Pois é um dos vinhos dessa época, muito consumido no Brasil. De acordo com Jancis Robinson, “enquanto isso, um pequeno grupo de produtores obstinados, orientados pela qualidade, continuaram provendo evidências dos milagres que podem ser feitos em vinhedos alemães”.

A outra revolução do vinho alemão se deu nos anos 1980, quando uma nova geração de enólogos começou a questionar a qualidade da bebida até então produzida – e, inclusive, começou a preferir os vinhos secos aos doces. Isso somado às mudanças climáticas, que trouxeram verões mais quentes e uvas mais maduras, faziam com que fosse possível, inclusive, se cultivar uvas tintas como Pinot Noir, Syrah e Cabernet Sauvignon.

É a variedade branca Riesling (pronuncia-se “rizlin”) que dá origem aos vinhos mais emblemáticos do país, sem sombra de dúvidas. Referenciada muitas vezes com a uva favorita dos sommeliers, consegue atingir a máxima expressão em sua terra de origem, a Alemanha: os aromas típicos do Riesling alemão vão de pêssego e maçã a notas minerais que lembram petróleo – eis a marca registrada dos exemplares mais complexos – e o paladar, com textura cerosa, é marcado por acidez acentuada. Apesar disso, é difícil definir uma característica única para os vinhos feitos de Riesling, uma vez que a uva é extremamente versátil e pode originar uma série de vinhos distintos (desde os secos até os de colheita tardia e botritizados).

“O sucesso internacional dos Rieslings alemães doces ofuscaram os vinhos feitos a partir das outras variedades do país, que são normalmente de alta qualidade”, disse Stuart Pigott. E por isso fazemos questão de falar também das principais variedades alemãs além da variedade de destaque do país, a Riesling.

Logo após a Riesling, a branca autóctone Müller-Thurgau (pronuncia-se “miler turgau”) também marca a sua presença nos vinhedos da Alemanha. Mais simples do que a principal casta do país, é conhecida por seus vinhos leves e aromáticos, fáceis de beber, com bom corpo e acidez intermediária. O perfume floral dá característica única a seus vinhos, fazendo com que se pareçam doces mesmo quando o vinho for seco.

Além dessas duas variedades, presentes em praticamente todas as regiões vinícolas alemãs, outras duas cepas também se destacam: a perfumada Grauburgunder (como a Pinot Gris ou Pinot Grigio é chamada na Alemanha), conhecida por serem mais aromáticos do que as versões italianas ou francesas; e a pouco conhecida Silvaner, com notas de pêssego, maracujá e ervas rodeadas por sua acidez crocante.

Os vinhos brancos são maioria na Alemanha e representam 65% da produção vinícola do país, mas uma uva tinta merece destaque: a Pinot Noir ou Spätburgunder. Um pouco mais encorpada do que é a uva em outras regiões, aqui a Pinot ganha bom estágio em carvalho e caráter defumado marcante.

Embora a Alemanha esteja na lista dos 10 maiores países da Europa, ocupando a sétima posição, a sua área de vinhedos é reduzida e se concentra no sudoeste do país e se divide em 13 denominações de origem chamadas de Anbaugebiete. Para se ter uma ideia, a área de vinhedos da Alemanha soma os 103 mil hectares contra 1.021 mil hectares da Espanha (país com a maiores área de vinhedos do mundo) e 211 mil hectares do Chile (10º país do ranking). Para começar a conhecer os vinhos alemães, é preciso conhecer ao menos as três regiões vinícolas mais importantes do país: Mosel, Rheingau e Pfalz.

A mais famosa região alemã hoje é Mosel, “um resumo do tradicional vinho alemão: aromático, delicado, vigoroso, com potencial de guarda e diferente de qualquer vinho feito em qualquer parte do mundo”, segundo Jancis Robinson. A região se estende às margens do rio de mesmo nome, que depois desemboca no Reno. Em Mosel, a Riesling ocupa a maioria dos vinhedos – mais da metade das áreas de vinhedo de toda a região -, seguida por Müller-Thurgau e Rivaner. Os melhores vinhedos de Mosel estão situados em íngremes colinas com face sul, expostos à neblina que varre o rio pela manhã (fazendo com que as uvas sejam atacadas pela podridão nobre) e com solos contendo alta quantidade de sílex. É a combinação desses três fatores que fazem os Rieslings de Mosel os mais bem reputados do mundo. De acordo com Jancis Robinson, “os vinhos de melhor custo-benefício de Mose tendem a ser Kabinett e Spätlese feitos de Riesling cultivada em vinhedos únicos”. A Master of Wine indica Dr Loosen, Fritz Haag e JJ Christoffel entre os melhores produtores da região.

Localizada em uma região mais central da Alemanha, Rheingau é lar da Schloss Vollrads, uma das vinícolas mais antigas do mundo. Às margens do rio Reno, é encoberta a norte pelas florestas das colinas Taunus. Apesar de a Riesling e a Müller-Thurgau serem as duas principais uvas, respectivamente, também é possível encontrar Spätburgunder.

Pfalz é uma região que vem se destacando cada ano mais – tanto em produção quanto em qualidade. A região, que faz divisa com a França a sul e a oeste, é a maior produtora de vinho alemão. Os solos de argila e marga, com alto conteúdo de giz, dão origem a Rieslings de excelente qualidade, assim como Müller-Thurgau e Silvaner. Uma particularidade de Pfalz é a presença significativa das uvas tintas Portugieser e Spätburgunder.

Pfalz é hoje a base para muitos jovens produtores “artesanais” que estão explorando solos novos e utilizando técnicos orgânicos e biodinâmicos. Alguns dos vinhos mais interessantes da Alemanhã está saindo desta região.

Podemos dizer que 2015 foi uma safra excelente para toda a Alemanha, destacando-se Mosel pela qualidade “promissora” e Rheingau pela “excelência”, nas palavras da Jancis Robinson. A safra de 2014 foi muito fria e muito úmida, fazendo com que os rendimentos ficassem muito abaixo da safra anterior. A qualidade dos vinhos varia de boa a muito ruim. O ano de 2013 também não foi marcado por uma das melhores safras, ganhando status de intermediário: tudo correu perfeitamente bem até setembro, que foi muito úmido, fazendo com que muitos produtores tivessem forçado o nível de maturação dos vinhos para evitar a podridão cinza. Apesar de todo o verão ter sido úmido demais, 2012 teve um final de safra quente, sendo considerada “muito boa”. Os vinhos que se destacaram foram os Rieslings secos e os Spätburgunder. Antecedida por duas safras ruins, 2011 também foi considerada excelente – “existe um excitamento nesses vinhos, com exemplares de qualidade superior ultrapassando a fronteira dos Rieslings secos e Spätburguner e um novo recorde de brancos nobres”, segundo Jancis.

Por Equipe Sonoma

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