Misturar não é combinar, disse certa vez o filósofo Jean-François Revel. “O tomilho estraga o robalo, mas engrandece o cordeiro grelhado”, sábias palavras de um atento observador.

Em certo aspecto eu concordo com as palavras de Revel, e faço minha paráfrase: misturar vinho e comida não é harmonizar. A fome é um estado permanente e saber preparar os alimentos dá uma certa moralidade aos instintos.
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Recentemente encontrei um livro que tinha a intenção de ensinar as regras da harmonização. Na obra, o autor tenta definir de uma vez por todas (esse é o subtítulo do livro) quais vinhos beber, quais pratos comer, e quando fazer isso. Obra dispensável.

Será a harmonização uma ciência tão exata? Afinal, o que é harmonizar? Confesso que não sei bem, mas certamente é algo simples e mais sutil.

A explicação pode vir da Grécia antiga, do filósofo Aristóteles. Na obra “A Retórica” , o discípulo de Platão enuncia que a harmonia é uma das dimensões da Beleza, e que é composta também pela proporção. A harmonia é, para o sábio grego, parte da sensibilidade. A experiência concreta que se mescla ao abstrato gerando prazer e conforto. Saber tem a ver sabor e deve causar satisfação.

Uma das melhores definições que encontrei sobre harmonização está no livro “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust. Na cena narrada, ele está desfrutando de uma xícara de chá com bolinhos.

Ele diz “…no mesmo instante em que aquele gole […]tocou o meu paladar, estremeci, atento ao que se passava de extraordinário em mim. Invadira-me um prazer delicioso, isolado, sem noção da sua causa (…) enchendo-me de uma preciosa essência”.

Para Proust, a degustação das madeleines com chá estava além da fome, além do status, ele era apenas um intérprete daquele momento. O instante fora capturado pelo paladar, e jamais saiu de sua memória.

Harmonizar, portanto, não se restringe a apenas emparelhar a comida e bebida, mas inserir na equação o ambiente, as pessoas, o contexto. Lembrem-se da proporção da beleza, de Aristóteles.

A harmonização é uma celebração do momento, da amizade, do convívio alegre e descontraído entre pessoas. Ouso dizer que não há regras, mas para terminar – tenho uma queda por listas – deixo algumas sugestões. Esperam sejam úteis.

Dica número 1

Busque o prazer em comer e beber. A comida nos dá energia e fortalece o estômago; o vinho dá vivacidade e mais liberdade ao riso e às palavras.

Dica número 2

Vinhos brancos são mais democráticos e fáceis de combinar com comida do que os vinhos tintos.

Dica número 3

Espumantes “sobem” mais rápido que vinhos sem gás. Tenha cuidado!

Dica número 4

Os vinhos refletem a cultura e o temperamento dos povos, por isso são tão diferentes entre si. Se a primeira impressão do vinho não for boa, tenha um pouco de paciência , e prove novamente J.

Dica de leitura:

Em busca do tempo perdido. De Marcel Proust.

A obra é uma viagem pela memória do autor quando jovem, narra de maneira poética suas alegrias e frustrações, na Paris dos anos 20.

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Por Alykhan Karim
Co-fundador e CEO de Sonoma Market
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