Culinária Mafiosa ? Como Assim ?
Exatamente: a máfia tem uma culinária própria. Na verdade, além de comer, ela era dona de vários lugares que produziam esses alimentos.
Se quiser conhecer a gastronomia da máfia, eu vou fazer uma proposta que você não poderá recusar.
Calma, apesar dessa frase ser do Corleone, meus métodos são mais agradáveis que os dele. Apenas sente-se e leia essa matéria.
Cosa Nostra
A máfia é uma organização criminosa formada na Sicília, Itália, a partir do século 18. A dinastia espanhola dos Bourbons havia conquistado a coroa, e a máfia surgiu como um segundo poder, uma autonomia da população, organizada em “famílias”.
As ações são baseadas na vingança contra inimigos, na violência e na “omertà” (“lei do silêncio”) que a população adotou e mantém a sociedade em segredo.
A máfia existe até hoje, comandando setores ilegais (como drogas e prostituição) ou legais.
Também é chamada de Cosa Nostra (“coisa nossa”, em italiano), e não ficou só na Itália.
Imigrantes sicilianos levaram a organização aos Estados Unidos e até à Austrália, e vários filmes retratam seus estilos de vida, sua fidelidade inabalável pela “família” e seus charutos cubanos. Mas pouca gente conhece a culinária da máfia.
Azeite E Vinho Do Padrinho
Como a organização surgiu no campo, sua gastronomia adotou muitos ingredientes da dieta camponesa da Sicília.
Antes de mais nada: azeite e azeitona são itens obrigatórios. São ingredientes típicos da cozinha siciliana, e eram muito valorizados desde sempre.
E quando falo que os mafiosos não apenas comiam mas também produziam alimentos, não estou mentindo: as azeitonas Nocellara pertenciam à Cosa Nostra, fazendo azeites que agradavam ao paladar exigente dos chefões.
Hoje em dia, pertence a uma associação cooperativa que trabalha com as terras e bens confiscados da máfia, mas ainda produz azeites maravilhosos.
Para beber, os vinhos regionais da Sicília são os mais requisitados pelos mafiosos, de preferência tintos aromáticos e presentes, que trazem exaltação dos sentidos.
Alguns vinhos sicilianos: Alcamo, Cerasuolo, Contea, Contessa, Eloro, Etna, Faro, Malvasia delle Lipari, Menfi, Moscato di Noto, Moscato di Pantelleria, Moscato de Siracusa, Regaleali, Santa Margherita di Belice e o célebre Marsala.
Prato Principal
E agora, vamos ao prato principal! O menu mafioso de hoje (e de sempre) é: Ovelha cozida!
E o motivo desse prato é meramente estratégico: a máfia usa jantares e banquetes entre as “famílias” da organização para fazer vínculos, organizar coisas, trabalhar a logística e até matar inimigos.
Enfim, discutir “assuntos”. Quem viu pelo menos os cinco primeiros minutos de “O Poderoso chefão” já percebe que uma festa de casamento pode ser uma reunião de mafiosos.
Mas essas festas precisam ser esporádicas, pois a polícia está sempre alerta. A tática, então, é fazer um banquete onde a organização possa se reunir enquanto a comida é feita.
Qualquer problema, a desculpa é que são apenas amigos fazendo um jantar.
Então, é melhor que a comida seja alguma coisa que demore muito pra ser preparada, para que dê tempo de todos conversarem e nada ficar “pendente” depois da sobremesa.
A ovelha cozida leva horas para ficar pronta, porque a carne de ovelha é muito fibrosa. Além disso, é de praxe usar a carne de uma ovelha fêmea no fim da vida (aquela que já teve cordeiros e não pode mais gerar filhotes), e quanto mais velho o animal, mais dura é a carne, e mais tempo leva pra cozinhar.
A receita também exige que a água do cozimento seja trocada três vezes durante o preparo, para eliminar o excesso de gordura. Perfeito para todas as questões serem postas em ordem.
Em um artigo publicado na imprensa italiana, o procurador federal Ignazio De Francisci falou especificamente sobre esse prato: “Comer a ovelha cozida é descobrir um dos elementos fundamentais da Máfia.
Serve para entender a lógica da organização criminal, impiedosa e dura como a vida do pastor siciliano, anárquico por vocação, contrário a toda forma de lei por instinto natural.”
Acompanhamentos E Sobremesa
Para acompanhar a ovelha, nada como vegetais sicilianos: alcaparras, alcachofra, brócolis, abobrinha, tomates, pimentões e favas (uma espécie de vagem). Nas frutas, usam muito o limão, a toranja (também conhecida como laranja-vermelha), a uva e o figo.
E, pra finalizar, uma sobremesa bem siciliana: cannoli, um tubo de massa doce frita, recheado com ricota ou mascarpone, vinho Marsala, baunilha e chocolate.
Como diria Clemenza (famoso comparsa do Poderoso Chefão) ao seu capanga, logo após matar um traidor da “família”: “Leave the gun, take the cannoli”. (“Largue a arma, pegue o cannoli”).
Por Fernanda Braite
Nada melhor que um bom vinho para acompanhar