O que está escrito no rótulo deste vinho é, literalmente, “No Name”. Abaixo, no canto direito, quase imperceptível, “Etichetta di Protesto.” Trata-se de um vinho que virou lenda no mundo do vinho italiano, a história do “Barolo que não foi”.

O que está escrito no rótulo deste vinho é, literalmente, “No Name”. Abaixo, no canto direito, quase imperceptível, “Etichetta di Protesto.”

Trata-se de um vinho que virou lenda no mundo do vinho italiano, a história do “Barolo que não foi”.

Começa da seguinte forma, com a casa Borgogno, a mais histórica de Barolo, sediada na região desde 1761.

Responsável pelos Barolos favoritos de diversos czares da Russia, de diversos Papas, também pelo vinho italiano mais caro já vendido em leilão (um Barolo da safra 1886), dentro da comuna de Barolo, uma das 11 subzonas da Barolo DOCG, Borgogno reina.

Um belo dia o produtor submeteu seu Barolo da nova safra para aprovação pelo Consorzio da DOCG da região, órgão regulador.

Isso era considerado uma mera formalidade, um processo burocrático, para obter uma estampa no papel e proceder pela divulgação da nova safra ao mercado. Os Barolos da Borgogno sempre foram elaborados com um olhar mais crítico do esforço mínimo estipulado pelas regras: estagiam em carvalho e garrafa por 6-12 meses a mais do normal, toda a fruta vinha de vinhedos dentro da DOCG Barolo e, inclusive, vinha de 3 vinhedos “crus” importantes da região: Cannubi, Fossati e Liste. Ninguém fazia isso, destinar fruta de vinhedo “cru” para seu “Barolo normal.”

Justamente por isso, desde a formação da Barolo DOCG em 1980, nenhum vinho do Borgogno tinha sido questionado.

Até a avaliação da safra 2005.

No ano em questão, a resposta que veio foi

“Rejeitado, vinho atípico.”

Tudo bem. E o que? O que significa isto?

O novo Barolo de Borgogno teria que ser lançado como “Langhe Nebbiolo”, uma classificação menos valioso de “Barolo DOCG”. Pode parecer pouca coisa, mas o impacto financeiro poderia ser enorme (já que Langhe Nebbiolo poucas vezes comanda o mesmo valor de Barolo). O prejuízo à marca seria ainda maior. Um dos grandes nomes de Barolo, considerado entre os grandes nomes junto com conterrâneos Rinaldi, Vietti, Voerzio, e Conterno, não poder lançar seu Barolo como Barolo?

Pela propriedade, foi impensável.

O produtor passou meses em briga, buscando entender.

Mas, no final, ficou evidente que a decisão, baseada na opinião subjetiva de um único funcionário público responsável pela degustação, ia ser mantida.

Aí a história começou a ficar mais interessante.

Borgogno optou por seguir brigando, de outra forma. Lançou o vinho como Langhe Nebbiolo, mas com o rótulo “No Name” e “Etichetta di Protesto.”

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Um Barolo “Cru” em todo salvo nome, o produtor deixou claro que o “novo” vinho era uma renúncia pública da burocracia italiana, que permitiria um procedimento subjetivo, nada claro, desconsiderar de vez as centenas de horas de labuto de dezenas pessoas envolvidos no cultivo, colheita e winemaking…

Pela felicidade do produtor, o rótulo viralizou. “No Name” vendeu em tempo recorde. Em menos de um mês não tinha mais vinho e o produtor bi-centenário de repente foi aplaudido na imprensa e pelos consumidores por sua postura contra a burocracia e regras sem sentido.

Os críticos do vinho também notaram.

“Consumidores, prestem atenção. “No Name” vem de fruta colhida dos melhores vinhedos de Borgogno e passa pelo mesmo processo de fermentação e estágio em madeira dos Barolos. Este é um dos melhores achados no mundo de vinho.” – Antonio Galloni.

Desde então, “No Name” se manteve. Ano após ano, Borgogno “desclassifica” uma porção significativa do seu Barolo para fazer o rótulo, hoje o mais procurado da casa. Sempre precificado um pouco abaixo do seu Barolo tradicional, é quase o mesmo vinho, de fruta dos mesmos vinhedos, porém com um tempo de maceração mais curto, para dar mais frescor e taninos menos vigorosos.

“No Name” chegou à minha atenção em uma viagem para Itália recente, recebi uma garrafa da safra 2017 de presente.

Ao degustar fiquei impressionado. O vinho brilha.

Seu cor de tijolo e cobre diz “pura Nebbiolo”.

Após decantar 2 horas, no nariz senti um floral, de pétalas de rosas secas, também terra e especiarias doces. Oferece todo o perfume pela qual a casta Nebbiolo, e também a casa Borgogno, é conhecida.

Em boca o frescor e suculência de cerejas frescas e framboesas quase prontas para colher intercalma com taninos volumosos e estruturados, nuances cítricas, uma persistência e evolução em boca estupenda.

Dou 95 Pontos a este vinho. Meu estilo total de Barolo.

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Para os amantes de vinhos italianos, “No Name” é um “must-have” para sua adega. Para os amantes de Barolo, alegria pura.

Abraço grande,

Alykhan Karim

Blog Sonoma Market

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