A uva que ficou conhecida como a “Herança da América” é, na verdade, filha bastarda dos Estados Unidos.
A herança da América
Até pouco tempo, se acreditava que a Zinfandel era uma casta nativa dos Estados Unidos. Descobriu-se, entretanto, depois de uma pesquisa realizada pelos viticultores da universidade UC Davis em 2001, que não é bem por aí. O mais curioso de tudo isso – e que chega até ser irônico – é que o vinho feito com a Zinfandel ficou conhecido nos Estados Unidos como “A Herança da América”.
Bom, como toda lenda é lenda, vamos aos fatos e dados! Em meados do século passado, já havia sido constatado, devido às semelhanças, que a uva Primitivo, da região de Puglia, na Itália, era geneticamente idêntica à Zinfandel. Mas apesar das incidências, o caso não estava encerrado – os italianos alegavam não serem os verdadeiros “pais” da Primitivo. Traçou-se, a partir de então, uma provável rota da Zinfandel a caminho da Califórnia.
De volta a 1820 – Estados Unidos, Itália ou Áustria?
O trajeto bem documentado da Zinfandel indicava sua vinda, em 1820, da Áustria. Na ocasião, amostras de espécies da coleção imperial austríaca teriam saído de Viena com destino a Boston, onde foram vendidas pela primeira vez no continente americano – já com o nome que ganharia o mundo anos (ou podemos dizer séculos?) mais tarde.
Apesar de sua chegada à América, a uva ficaria conhecida apenas entre os anos de 1835 e 1845. Mesmo sabendo terem chegado da Áustria, ainda não havia sido comprovada a sua origem. A verdade é que a Zinfandel não era nem americana, nem italiana, nem austríaca. Constatou-se a possibilidade de a Áustria ter obtido tais vinhas da Costa da Dalmácia, durante o período em que governou a Croácia.
Historicamente, o país teve variedades semelhantes à Zinfandel, porém, a grande maioria delas havia se perdido no século XIX. Pelo menos era o que se sabia até então… Eis que os pesquisadores chegaram à Croácia e se depararam com a cepa conhecida localmente como “Crljenak Kaštelanski”, cuja estrutura do DNA comprovava a ancestralidade da “californiana” – e onde é cultivada até hoje como tal, em ao menos nove vinhas.
Isso mesmo: apesar de refletir o terroir do Novo Mundo, a Zinfandel é croata! E reza a lenda que a casta primitiva, inclusive, teria ficado famosa durante os dias áureos do Império Romano. Enfim, não entremos no mérito das lendas novamente!
Chegada ao “Velho Oeste”
Foi somente nos anos 1840, durante a “Corrida do Ouro”, que a Zinfandel chegou à costa oeste dos Estados Unidos, onde a produção surgiu pela facilidade do seu cultivo usando o método tradicional “head pruning”, sem que fosse preciso fazer uso de algum equipamento especial ou até mesmo de recursos que eram escassos, como água e madeira.
Ainda no século XIX, em 1885, depois da destruição de grande parte das vinhas da Califórnia, causada pela praga filoxera, a Zinfandel foi uma das primeiras a serem replantadas e, meio século depois, se tornou uma das mais importantes entre as variedades tintas da Califórnia.
Foi somente nos anos 70 (sim, chegamos ao século 20!), que se descobriu o Zinfandel branco à partir da variedade tinta. Antes de iniciar o processo de fermentação, o produtor precisa remover a película vermelha do suco, elemento que não só é responsável pela tonalidade púrpura, como é o que dá sabor robusto ao tinto. Sendo assim, o Zinfandel branco é mais doce e suave!
A Zinfandel hoje, adotada pela Califórnia
A questão é que a uva se adaptou tão bem ao solo e clima da Califórnia, que a região se tornou sua principal produtora no mundo. O cultivo da Zinfandel chega, inclusive a predominar em oito regiões (de Mendocino Lake e Condado de Sonoma, no norte, às regiões Central e Sul), além de estar presente em todas as zonas produtoras do estado americano. E não é só na Califórnia que a cepa é cultivada.
Suas vinhas estão presentes em outros estados americanos, como Arizona, Colorado, Illinois, Indiana, Iowa, Massachusetts, Nevada, Novo México, Carolina do Norte, Ohio, Oregon, Tennesse, Texas e Whashington. Além, é claro, de ser produzida em outros países também: Austrália, África do Sul, Nova Zelândia, Chile, Argentina, França, Itália e, tradicionalmente, Croácia.
Seu vinho é marcado pela “picância” característica e toques frutados, principalmente das frutas vermelhas e cerejas escuras. E sua cor, então? Com tonalidades, que de tão escuras, beiram o preto. Como bom “americano”, o vinho é ideal para acompanhar alimentos tipicamente americanos, como hambúrguer com molho “barbecue” e steak bovino.
Pronto para provar a Zinfandel em uma de suas versões mais legais?
Por Gustavo Jazra
Os melhores vinhos do mundo você só encontra na Sonoma Market !