Extensa, Bordeaux é formada por diversas appellations que, de um modo geral, podemos dividir em três partes ao longo do rio Gironde: margem esquerda, margem direita e Entre-Deux-Mers (“entre dois mares”, em francês).

A partir desse recorte, as algumas conclusões: à direita do rio, predomina a Merlot enquanto que à esquerda, Cabernet Sauvignon; já Entre-Deux-Mers é conhecida por seus brancos. 

Depois dos estilos e classificações, momento de se aprofundar nas sub-regiões. Vamos a elas:

MARGEM ESQUERDA

Médoc

Para muitos, a sub-região de Bordeaux de maior importância. Formada por seis comunas, das quais quatro são extremamente famosas, Médoc começa na cidade de Bordeaux e se estende por 50 quilômetros ao longo do Gironde.

Saint-Estèphe, Pauillac, Saint-Julien e Margaux são tão prestigiadas justamente por terem o que muitos consideram o melhor terroir de Bordeaux. Já Graves se destaca por alguns grandes Châteaux que produzem tão bem tintos quanto brancos, e também, claro, os grandes vinhos de sobremesa de Bordeaux.

Saint-Estèphe

O estilo mais rústico dos vinhos de Saint-Estèphe nasce junto à foz do Gironde. Para contrariar a maioria dos châteaux de Médoc, os daqui preferem Merlot à Cabernet Sauvignon. Mas não espere um Merlot macio, característica tão tradicional desta uva. Estes são densos e poderosos. Destaque para o Château Cos d’Estournel, com seus vinhos ricos e expressivos, Château Montrose e Château Phelan-Segur.

Château Lafite-Rothschild, Château Mouton-Rothschild e Château Latour. Precisa de mais? Em Pauillac estão 18 dos 61 maiores vinhos de Bordeaux, e, do mundo. Encorpados e poderosos, sempre à base de Cabernet Sauvignon, com bastante estrutura, taninos polidos e acidez impecável, com distintos toques de groselhas negras e cranberry.

De lá, saem vinhos com potencial de guarda incomparável – de 20, 30, 40, 50 anos! É exatamente por isso que esses vinhos fazem a base do mercado de vinho de investimento. Um leilão de vinhos pelo Sotheby’s? Pode ter certeza que Pauillac será a estrela. E, como já deve estar imaginando, se a escolha for um Pauillac, é bom preparar o bolso com muitos dígitos (mais do que está pensando)!

Saint-Julien

Precisos e refinados, assim são os principais vinhos de Saint-Julien. Menos poderoso que Paullliac e St. Estephe. A composição varia entre Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, as vezes com uma pitada de Petit Verdot. Destacam-se por lá o Château Ducru-Beaucaillou, Château Gruaud-Larose e os “3 Léoville”, sendo  Léoville-Barton, Léoville-Poyferré e Léoville-Las Cases. Nos anos recentes o Château Gloria está ganhando cada vez mais destaque.

Margaux

Além de, obviamente, o Château Margaux (um dos maiores nomes e vinhos do mundo), a região abriga ao menos outras 20 propriedades bem conceituadas. Com um dos solos mais favoráveis de Médoc, composto principalmente de cascalho, é de lá que saem os vinhos mais perfumados e elegantes da Médoc. A denominação é conhecida pela finesse e generosos aromas de frutas vermelhas, tostado, café e até trufa. Para investimento (ou puro prazer!), procure vinhos do Château Margaux, Château Palmer, Château Rauzan-Ségla e Château Anglet e não se arrependerá!

Graves

É da mistura entre cascalho e quartzo que o solo dos melhores châteaux de Graves são compostos. O próprio nome da apelação deriva da palavra francesa “gravier”, que significa cascalho.

Além da Cabernet Sauvignon, variedade que domina a região, Merlot e Cabernet Franc são usadas com bastante frequência. E preste atenção, pois estamos falando de uma das únicas partes de Bordeaux que fazem tanto vinhos tintos como brancos. Em se tratando destes, a maioria resulta do corte de Sémillon e Sauvignon Blanc. E que brancos! Os grandes rótulos das melhores propriedades de Graves são entre os melhores vinhos brancos do mundo.

Pessac-Léognan

Vinhos de algumas das mais antigas vinícolas de Graves chegavam na Inglaterra antes mesmo do século 12. Sendo assim, no século 16, alguns châteaux já eram conhecidos e tinham sua boa reputação conhecida, como é o caso do Château Haut-Brion, um dos mais tradicionais da região, um dos vinhos mais bem avaliados de Bordeaux. Em frente à propriedade fica a Château La Mission Haut-Brion, cujos vinhos saem por só um pouquinho menos, mas tendem a ser tão incríveis quanto). Outro produtor para procurar é Domaine Chevalier.

Acontece que, a grande maioria dos melhores vinhos de Graves, agora pertencem a uma importante denominação que a região congrega, Pessac-Léognan. É especificamente de lá que saem os mais conceituados brancos e tintos.

Sauternes e Barsac

Ao sul de Graves, ainda ao longo das margens do Gironde, estão situadas as comunas mais doces de Bordeaux. Estamos falando de Sauternes e Barsac, provavelmente as mais devotas aos vinhos de sobremesa. Junto com os vinhos de sobremesa Tokaji, da Hungria, são considerados os melhores vinhos de sobremesa do mundo.  

Mais do que simplesmente doces, com deliciosas notas de mel e damasco, equilibram como nenhum outro acidez e álcool. A protagonista é sempre a Sémillon, cepa que reina na região, porém alguns vinhos também contém Sauvignon Blanc, ambas atingidas com a dita “podridão nobre”.

O clima é um fator tão determinante para que as uvas sejam naturalmente atingidas pelo fungo, que os melhores châteaux simplesmente se recusam a vinificá-las nos anos em que umidade e calor não foram ideais. Para se ter uma ideia, um dos mais renomados, o Château d’Yquem, não chega a produzir uma garrafa sequer ao menos duas vezes numa década. A última década sendo uma exceção. Parece loucura, mas preferem lidar com os prejuízos de um ano sem produção a baixar o padrão de qualidade de seus vinhos. Busque também os vinhos do Château Suduiraut e Château Rieussec.

MARGEM DIREITA

Saint-Émilion

Quanto menor o vinhedo, menos mão de obra necessária, certo? É isso mesmo que acontece em Saint-Émilion, e justamente por essa razão que os vinhos são, em sua maioria, feitos pela própria família dona da propriedade. Um dado curioso sobre a região apenas confirma o fato: para cada três habitantes existe um château.

Diferente das outras, Saint-Émilion é toda distribuída em colinas de calcário, as chamadas côtes. Além disso, é a comuna mais medieval de Bordeaux, chegando até a lembrar uma fortaleza. 

Sempre à base de Merlot, que é cultivada com grande sucesso nos seus solos de argila-calcário que retém calor e ajuda no amadurecimento da uva, de aqui saem alguns dos melhores vinhos de Bordeaux: Château Cheval Blanc, Château Ausone, Château Pavie, Château Angelus, Château Valandraud… a lista continua.

Pomerol

A menor das sub-regiões de Bordeaux é também uma das que mais atraem olhares dos apreciadores da região. O mais curioso é que, até o início do século vinte, passava despercebida. O motivo da reviravolta? Simplesmente por ser a casa de um dos mais prestigiados châteaux do mundo, o Pétrus. É lá, portanto, que estão os vinhos mais caros de toda Bordeaux.

Mais de 70% da região é coberta por Merlot e o restante é praticamente exclusivo de Cabernet Franc. Isso porque seu solo resulta da mistura entre argila e carvalho, perfeito para ambas.

A composição de Pomerol é única – existe uma argila aqui pouco encontrada no mundo e certamente em nenhuma região de Bordeaux. Hoje é comprovado que milhões de anos atrás um asteroide caiu nesta pequena parcela de terra e a composição única se deve a isso. Veramente, são vinhos estelares (desculpa a piada terrível, não dava para resistir). 

Nas melhores regiões de Pomerol nascem vinhos aveludados e ricos em notas de ameixa, cacau e violetas. Vinhos que combinam intensidade e elegância, que mostram prontos para se tomar mais rápido do que os “maiores” vinhos da Médoc, de Pauillac. Porém possuem um potencial de guarda tão bom quanto: Pétrus pode evoluir com sucesso na adega por meio século.

Pomerol nunca é em conta, mas se não der para aproveitar de um Pétrus para adega, Le Pin, Conseillante e Clos Saint-André oferecem experiências inesquecíveis.

Entre-Deux-Mers

Como o próprio nome já diz, a região se encontra entre os rios Dordogne e Garonne. Nunca seus vinhos foram classificados e a maioria dos tintos, inclusive, não segue as regras da denominação Entre-Deux-Mers, se enquadrando apenas como Bordeaux ou Bordeaux Supérieur. Os brancos é que dominam.

Feitos principalmente de blends de Semillon, mas também de Sauvignon Blanc e Muscadelle, são florais com um toque picante. E por não estagiarem em barrica, ganham leveza e frescor como nenhum outro. Vinhos da Cadillac AOC oferecem bastante complexidade a um valor muito razoável.

Forte abraço,
Equipe Sonoma Market

Blog Sonoma Market

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