É, pessoal, sinto muito em dizer, mas a única certeza na vida de um vinho é de que um dia ele vai morrer… Assim como na minha vida, ou na sua, quer coisa mais humana? Coisas que a metafísica explica.
A composição de um vinho é muito complexa – tem a ver com as uvas, o corpo, os taninos e tudo o mais. O fato é que cada vinho é único, e cada vinho tem seu tempo, digamos (só digamos) de validade.
O vilão
O vilão, no caso dos vinhos, não é o tempo. É o ar. O oxigênio, em contato com certas substâncias do vinho, inicia uma série de reações químicas que não vale a pena tentarmos entender assim, do nada (a não ser que disso dependa a sua carreira… Aí, vale a pena sim).
O resultado (você já deve ter ouvido falara nela) é a oxidação. É ela quem dita o caminho da vida de um vinho (aquele negócio de nascer, crescer, envelhecer e morrer).
Uma vida feliz
Então, vamos imaginar a linha de vida de um vinho. Tudo começa quando acaba a fermentação, e o vinho se torna, de fato, um vinho. É inevitável que o vinho e o ar se encontrem nesse momento, ou seja, começa a oxidação.
Claro que é uma oxidação mínima, pois os barris de carvalho, os tanques de inox, a garrafa, foram todos feitos para evitar ao mínimo que o processo aconteça. Acontece pouco, mas acontece.
Nessa fase, a oxidação é desejável – ela revela os sabores, deixa-os mais profundos, amacia a potência, deixa o vinho mais fácil e mais gostoso de beber. O vinho começa a evoluir, e isso é muito bom!
Porém, uma hora, ele chega ao auge. E sabe o que espera qualquer um depois de seu auge? A decadência… Quando atinge o seu ponto alto, o vinho começa perder suas propriedades, os sabores vão ficando passados (como o de uma fruta que amadureceu demais), a acidez se perde, fica “chocho”, fica fedidinho (tipo ovo apodrecendo mesmo)… Isso até o fatídico fim: o vinho vira vinagre.
Quanto tempo, então?
Eis o grande ponto. Cada vinho tem um tempo de evolução diferente, cada vinho alcança seu ápice em um período diferente, cada vinho começa a “morrer” com um tempo diferente.
E bota diferente nisso! Tem vinho que “aguenta” (ou seja, evolui) até uns cinco anos; tem vinho que passa dos 10 ou dos 20; tem vinho não dura nem um ano. A resposta é: depende!
Como lidar?!
Depende, depende… Tudo depende! Tentemos fazer uma listinha;
Vinhos que duram pouco (de 1 a 3 anos)
Em geral, os vinhos brancos e rosés são os que duram menos tempo. Acontece que o tanino é um dos elementos que mais ajudam a preservar o vinho por longos anos, e, como sabemos, o vinho branco tem muito menos contato com a pele da uva, ou seja, menos (ou nenhum) taninos.
Claro que existem vinhos brancos que podem ser guardados por mais de cinco anos, mas são mais raros (e mais caros também…).
Vinhos que duram mais ou menos (até uns 5 ou 6 anos)
São os que chamamos de tintos jovens, geralmente mais leves (olha os poucos taninos aí) e frutados. No Novo Mundo, em especial, esse tipo de vinho é maioria. Talvez porque ainda não se popularizou o ato de guardar um vinho (será que somos mais ansiosos nas Américas?).
Por passarem por uma vinificação mais simples, e menos custosas no que diz respeito à conservação do vinho, esses vinhos “jovens”, “simples”, “para o dia a dia” costumam ser mais baratos nos mercados.
Ah, vale lembrar que algumas uvas têm naturalmente menos taninos e, por isso, evoluem por menos tempo também. É o caso da Gamay, a famosa de Beaujolais e dos bistrôs franceses, e da tão amada Pinot Noir.
Vinhos para guarda (10, 20, 30 anos!)
Os vinhos mais complexos são os vinhos para guarda. Eles passam por processos muito mais cuidadosos, muito mais difíceis e, consequentemente, são muito mais caros. É o tipo de vinho preferido do Velho Mundo (Bordeaux que o diga, as maiores guarda vêm de lá).
É o tipo de vinho que praticamente se torna outro após anos deitado na garrafa. Eles ganham em aromas, em sabores, em valor. É como a metamorfose da borboleta, não há nada mais bonito!
É até um pecado abrir uma garrafa dessas antes de chegar ao auge. E há quem diga que é um infanticídio! Muitos produtores, até para evitar que isso aconteça, já deixa suas garrafas guardadas na adega da própria vinícola antes de lançar o vinho (já evoluído) no mercado.
E aí, será que aquele vinho que você ganhou na cesta de Natal da empresa há cinco anos ainda é um vinho? E aquele tinto a princípio inocente que seu avô trouxe da lua de mel em Paris? Pode ser quer você tenha uma relíquia na estante e nem saiba disso!
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