O que foi importante em 2021 e as previsões para 2022.
Por Suzana Barelli, especial para o Sonoma Market
Mais um ano de muito vinho. Assim pode ser definido 2021, que começou com o, digamos, desafio de definir se os brancos e tintos eram apenas uma bebida que fez sucesso na quarentena ou se teria espaço para o seu consumo crescer passado o período de confinamento em casa.
A resposta veio ao longo do ano, a ponto de chegar a 458 milhões de litros de vinho o volume acumulado entre a importação e a venda das vinícolas brasileiras registrado no período de janeiro a novembro deste ano.
Os dados de dezembro só serão divulgados em meados de janeiro de 2022, mas a estimativa da Ideal Consulting, que acompanha a importação e a venda das vinícolas brasileiras, é que o volume de vinhos comercializado este ano fique apenas um pouco abaixo dos 501,1 milhões de litros de 2020. Nestes primeiros 11 meses do ano, o volume é apenas 2% abaixo do registrado em igual período do ano passado, seguindo os dados da Ideal.
Para quem aposta neste mercado, é um número muito bom, já que 2020 foi realmente atípico. A grande dúvida no início deste ano era se, podendo sair de casa, o consumidor continuaria fiel ao vinho ou migraria para outras bebidas.
Ainda, todas as comparações com os dados de 2019, considerado um “ano normal”, apontam para um crescimento consistente do consumo do vinho – no ano passado, por exemplo, a soma da importação com a venda das vinícolas brasileiras foi 31% maior do que a registrada em 2019.
Mas para chegar a este resultado, muita coisa marcou o mundo do deus pagão Baco em 2020. A começar com um primeiro semestre com importações bem aquecidas, indicando que o consumidor tinha mesmo se encantado com o vinho.
O melhor exemplo é a chegada de novos consumidores, como mostra um estudo da Wine Intelligence: entre 2018 e 2020, um universo de 7 milhões de novos consumidores regulares chegou ao vinho no Brasil. Os dados de 2021 estão saindo do forno, também em janeiro, mas a estimativa é que novas pessoas continuem chegando ao vinho no Brasil em 2021.
Mais: por vários meses de 2021, a importação cresceu principalmente nas faixas de preço mais alta. Isso indica desde uma reposição de estoques, que foram consumidos ao longo da pandemia por aquelas pessoas de maior poder aquisitivo e que não estavam viajando (e comprando suas garrafas no exterior), mas também certo aprendizado com o vinho.
Em geral, os consumidores começam em brancos e tintos mais simples e vão subindo na escala de qualidade conforme vão aprendendo a apreciar a bebida, seja de uma forma mais prazerosa, seja com maior conhecimento sobre a bebida.
O mercado também vem se preparando para este consumidor. Neste 2021, aconteceram fusões importantes de empresas: a Wine comprou a Cantu e se tornou a maior importadora brasileira; e a Evino adquiriu a Grand Cru, passando a ocupar a segunda colocação neste ranking (o segundo lugar é da VCT, o braço brasileiro da chilena Concha y Toro).
Como o mercado é bastante pulverizado, isso não significa – ao menos por enquanto – uma concentração das grandes empresas, por mais que o Cade, o órgão que regula a concorrência, precisasse aprovar as transações. Foi também o ano do vinho ganhar espaço nos marketplaces, como exemplifica a migração da própria Sonoma, de uma empresa de e-commerce para um marketplace.
Outra investida importante, que deve se refletir em 2022, é a entrada da Ambev, a gigante de cervejas, no mundo do vinho. Anteriormente, a cervejaria já tinha dado alguns ensaios neste setor, mas foi apenas neste ano que ela criou uma divisão específica para trabalhar com as bebidas alcoólicas que não a cerveja. E o vinho, ao que tudo indica, tem um papel importante nesta estratégia, seja no vinho em lata, seja nos engarrafados.
E assim 2022 começa com as peças de xadrez bem colocadas, o que permite apontar tendências. A primeira é o espaço crescente para o vinho brasileiro. A procura pelos nossos vinhos ganhou fôlego com a pandemia, quando o consumidor encontrou – e se surpreendeu com – uma bebida com maior qualidade nas gôndolas do supermercado.
Muitas destas garrafas eram das safras de 2018 e de 2020, que foram muito boas, o que ajudou a vencer o preconceito com a bebida brasileira. Nas faixas de preço mais baixas, o consumo só não foi maior por problemas de logística: o Brasil, aliás, a América do Sul, vive um problema crônico com garrafas de vidro, que foi agravado com a necessidade de aumentar o engarrafamento de vinhos.
O vinho brasileiro ainda deve ser favorecido pela atual situação econômica e suas previsões nada otimistas para 2022. Com a moeda brasileira mais desvalorizada frente ao dólar, há um aumento do preço dos vinhos importados. De um lado, importadores procuram comprar vinhos mais baratos em sua origem, que possam ser vendidos, em real, em preço semelhante ao que o consumidor está acostumado a pagar.
É o consumidor pagando a mesma coisa por um vinho mais simples. Por outro lado, marcas já conhecidas aqui terão seus preços reajustados. “Com a possível redução do poder de compra do brasileiro frente à crise econômica, os importadores terão de intensificar a curadoria buscando rótulos de bom custo benefício”, afirma Felipe Galtaroça, CEO da Ideal Consulting.
Esta procura abre espaço também para as embalagens bag-in-box. Com capacidade para 3 a 6 litros, ela é mais barata, proporcionalmente, do que as garrafas de 750 ml. Esbarram, ainda, na questão de qualidade, que muitos produtores prometem solucionar, envazando vinhos melhores. Em novas embalagens, há também o vinho em lata, promessa da pandemia e que deve ser favorecido com a volta das comemorações e demais ocasiões mais festivas de consumo.
Também das chamadas ready to drink, bebidas à base de vinhos e pronta para consumo, não raro em embalagens de lata. Um exemplo é o Portonic já pronto da Taylor’s, que traz este drinque na receita certa para o consumo. Mas há outros exemplos, como a linha Mia Wine Seltzer, da Freixenet. “São bebidas que devem crescer em consumo nos próximos anos”, afirma o consultor Rodrigo Lanari, da consultoria Winext. Além de fáceis para beber, elas têm embalagens mais modernas e com mensagens mais adequadas ao público jovem.
Há ainda o espaço para vinhos com maior quantidade de açúcar residual, os chamados brancos e tintos meio secos, que vem agradando o paladar de muitos brasileiros. Os vinhos orgânicos e biodinâmicos continuam em foco, principalmente para os consumidores mais preocupados com o que ingerem ou com sua responsabilidade com o planeta.
Tem uma tendência que ainda não chegou ao Brasil, mas cresce no exterior que é a preocupação com o consumo de álcool. Campanhas de consumo responsável ou de um mês sem álcool, como o Dry January, da Inglaterra, podem aterrissar por aqui em breve.
Jornalista especializada em vinhos, Suzana Barelli agora também é colunista especial do Sonoma Market.
Suzana é atualmente colunista de vinhos do caderno Paladar, do jornal O Estado de S.Paulo. Ela escreve de vinhos desde o início dos anos 2.000. Foi editora de vinhos e diretora de redação da Revista Menu, e redatora-chefe da Revista Prazeres da Mesa. Também atuou como jornalista nas revistas Gula, Primeira Leitura e Carta Capital, e nos jornais Folha de S.Paulo e Valor Econômico.