Minha degustação começou pelo maior vinho branco da casa, o Compás.
Se for preciso escolher apenas 3 dos melhores vinhos brancos do ano até agora, para mim este será um.
(O Châteauneuf Blanc de Domaine du Pegau seria outro, o Smith Haut Lafitte Blanc também…).
80% Chardonnay com 20% Viognier, o vinho se destaca pela complexidade incrível que desenvolve na taça com passar dos minutos, horas, dias…
Sim, tomei ele durante 4 dias. Nunca entrou em declínio, cada dia que passou o vinho ficou mais complexo e intrigante.
Surpreendente para um vinho de apenas 12% álcool.
Ou talvez não.
Sempre pensamos “quanto mais, melhor.”
Felizmente, nos últimos 10 anos, o mundo do vinho reconheceu que isso não é verdade.
(Quem tomou algum dos melhores Rieslings GG da Rheingau já sabe, vinhos de complexidade inigualável, raramente ultrapassando os 12,5% de álcool ).
No caso deste, de uvas colhidas nos vinhedos da Stagnari em Canelones, costa uruguaiana, altamente impactada pelos ventos do Atlântico, o clima já diz que o vinho não vai ser “pancadão”. Sem o calor encontrado mais para o interior do país, a graduação alcoólica nos vinhos de Canelones sempre fica comportada.
Junto com a garrafa fosca, que já deixa claro que este vinho será especial, diferente, já esperava um belo de uma experiência.
Ao servir, uma cor tão dourada na taça que parece ouro.
Na taça senti aromas inebriantes que vão de coco para melão, pêssego, madressilva, com uma acidez em boca que é nada pronunciada no primeiro gole, que só com passar dos goles dá para sentir no meio palato, final de boca… tão diferente de maior parte dos grandes vinhos brancos, que já destacam acidez brilhante logo de cara, a primeira sensação…
Uma textura tão sedosa que parece uma pena de ganso acariciando a língua, tão cremosa, liberando camadas de pêssego e pera, melão madura, flor de cravo e um lado lindamente castanhudo, levemente amanteigado, tão volumoso…
Me lembrou do Derthona Timorasso da Borgogno….
Ou um meio termo entre Châteauneuf Blanc, Saint Aubin e Carneros Chardonnay… concorre com os grandes franceses e americanos.
Nunca fiquei tão impressionado por um vinho branco de Uruguai.
Sai na casa dos R$500 no site do produtor (mas no Sonoma Market hoje sai na promoção).
Vale cada centavo do valor original.
No valor promocional vou comprar umas 3 ou 4 para deixar na adega (se conseguir resistir), este vinho vai longe.
Dei 96 Pontos.
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O primeiro dos tintos que provamos é Cojudo, blend de Tannat, Petit Verdot e Marselan, inusitado.
Um vinho bem feito. No site do produtor na casa dos R$250, concorre bem com outros vinhos nesta faixa.
Sem dúvida um tinto para o inverno. Com 14,5% em um perfil indo bastante para frutas pretas, ameixas, também amoras e mirtilos maduros nos aromas, em boca se mostra meio cremoso e ainda spicy, a fruta azul dando lugar para cravo, alcaçuz, pimento do reino.
A presença da barrica está clara, uma tosta que intercala com as especiarias do vinho, uma experiência que lembra os tintos do sul do Rhône.
Deixei passar 3 dias entre abrir e degustar novamente.
Muito integrado, a fruta madura, ora fresca ora compota, oferece um lado mais avermelhado, cerejas em calda, geleia de morangos, uma leve achocolatado que da presença e persiste em boca, com traços cítricos se manifestando, acerola, laranja kincan…
Para quem quer vinhos encorpados e quem é carnívoro.
Decanter uma hora e servir com um ojo de bife… uau.
92 Pontos
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Ao provar o Dayman entendi que tinha chegado aos peso pesados.
“Aprofundar num mar de tinta” anotei.
Tão escuro, tão profundo este Tannat.
Cereja escura preta, leve cedro, um pouco de cânfora, mirtilo e amora esmagada… os aromas já denotam o que esperaremos em boca.
Em boca… tanta densidade… podia ser um 100% Petit Verdot.
Denso, impactante, mas sem ser pesado.
Mirtilos, groselhas, amoras maduras, mas nada doce, a fruta sedosa. Com excelente acidez e um lado achocolatado,d e cacau mesmo, senti um toque de madeira, muito bem integrado, também taninos aveludados…
A vinícola La Caballada em Salto, interior de Uruguai, é onde todos os Tannat e os outros tintos ultra-premium da casa estão elaborados, este inclusive.
Com clima continental, dias muito quentes, noites frias e um verão prolongado, muito parecido com a Ribera del Duero na Espanha, a concentração atingida nestes tintos é muito parecida à famosa região espanhola.
Este Tannat é a prova que ainda é possível achar belo equilíbrio, nada sobrepondo, nada em excesso.
Um excelente vinho.
93 Pontos
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Também de La Caballada, o Dinastia é o vinho mais importante da casa, considerado por muitos o Melhor Tannat de Uruguai.
“Campeão Mundial na categoria de vinhos tintos”” pela OIV (Organização Internacional de Vinhos, na Europa).
100% Tannat, das melhores uvas da vinícola, de baixíssimo rendimento (3.000 vinhas por hectare).
A colheita deste vinho é manual, feita a mão pelos membros da própria família.
Após vinificação passa por 14 meses em barrica de carvalho francês e 6 meses em garrafa antes de lançamento.
Stagnari produz na casa dos 80.000 – 100.000 anualmente entre todos seus 20 vinhos diferentes.
Contudo, deste vinho, apenas 1.500 garrafas saem anualmente, cada uma numerada.
Ao servir, fica tão escuro na taça que parece uma noite sem estrelas.
Aromas de frutas pretas, um lado de cânfora, uma certa mineralidade… com passar dos minutos começa a abrir também em amoras, frutas vermelhas também.
Em boca oferece uma densidade da Tannat que é único, mal daria para comparar a qualquer outro do país, ou de outro produtor.
Parecido em estilo ao Dayman, ainda mais macio e sedoso, fruta do café ganha destaque aqui, também fruta do cacau, que depois leva para traços achocolatados, traços de pimenta do reino, mirtillo, uma certa salinidade no final do palato, nuances de charuto.
Apesar da uva ser famosa por seus taninos, este vinho o destaque é a suculência da fruta, só após um tempo que dá para sentir os taninos acariciando palato, quase imperceptíveis no início agregam para a experiência com o passar do tempo.
Também degustei este vinho ao longo de 3 dias. Em nenhum momento entrou em declínio, cada dia que passou só melhorou.
Será um grande vinho para a adega.
Dá para entender por que tanta gente entende este vinho como o ápice do Tannat uruguaio.
Vale os R$550 no site do produtor (na gente hoj na promoção sai por bem menos…).
95 Pontos
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O último vinho da degustação foi o melhor vinho da casa, o Reserva de la Familia.
Se o Dinastia é considerado o melhor Tannat do Uruguai, será que este, o Reserva de la Família, seria o melhor vinho do Uruguai?
80% Tannat, do mesmo vinhedo em La Caballada que dá lugar para Dinastia, o Reserva é elaborado somente nas melhores safras, com a melhor parcela de uvas Tannat (80%) que a família possui, com uma parte de Cabernet Sauvignon (20%) agregada ao corte para agregar complexidade.
Apenas 280 garrafas são elaboradas anualmente, cada uma numerada.
Nem um barril (meio barril na verdade)…
Com o mesmo escuridão na taça da Dinastia, os aromas deste vinho são inebriantes, de mirtilo esmagado, geleia de amora, morango prensado, cedro, charuto…
Em boca… tanta maciez gente, PQP… como é possível para um vinho tão novo ainda, no início da vida…
Quase uma tinta de mirtilos e amoras, que junto com uma linda acidez leva o palato para uma experiência de outro nível… levemente spicy, de pimento do reino, entra alcaçuz, cravo também, as especiarias intercalando com a fruta preta e azul e levando para um final levemente achocolatado.
20 meses de barrica francesa de primeiro uso mas a madeira não se destaca neste vinho, absorvido pela densidade, as heranças da passagem pelo carvalho agregam corpo e complexidade mas nada inundam, ficam no fundo, dando apoio, deixando a qualidade da fruta se destacar.
Este é um vinho que facilmente concorre com os grandes sul-americanos: Seña, Clos Apalta, os maiores Malbecs de Mendoza. Porém com caráter totalmente próprio, DNA uruguaia. DNA La Caballada
Precificado na casa dos R$1200 no site do produtor, dificilmente alguém diria que não vale isso ou até mais.Ainda, na promoção do Sonoma, é oferecido por um valor mais acessível (apenas 24 garrafas no valor promocional).
Dei 96 Pontos ao vinho.
Espetacular.
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E é isso gente. Do portfólio de Stagnari, os rótulos mais importantes, mais complexos estão conosco.
Não podia ficar mais feliz com a qualidade destes grandes uruguaios. Tannat tão denso que não pode ser comparado a qualquer outro, sem os taninos marcantes, a fruta preta tão abundante… E um branco que é de tirar o fôlego.
Espero que você fique tão impressionado quanto eu.
Abraço grande,
Alykhan Karim
CEO, Sommelier – Sonoma Market