Vinho Madeira: história, produção e harmonização

Os vinhos da Ilha Esquecida… assim já foram chamados os vinhos produzidos com exclusividade na Ilha da Madeira. Antigamente uma verdadeira iguaria, altamente procurada, com o advento da tecnologia e navegação a Ilha perdeu seu status de porto obrigatório para grandes navegações e quase caiu no esquecimento, com seu maravilhoso estilo de Vinho Madeira perdendo status e muitos produtores abandonando o negócio.

No entanto, em tempos recentes a tendência de renovação da indústria do vinho alcançou também o local, uma verdadeira ilha do tesouro para amantes de vinho.

Vamos conhecer este estilo magnífico que é o Vinho Madeira!

O que é Vinho Madeira?

O vinho Madeira é um vinho fortificado, ou seja, um vinho fermentado a partir de uvas onde é adicionado aguardente para elevar o teor alcoólico, níveis de açúcar e ajudar na conservação do vinho. O vinho Madeira traz esse nome pois é produzido nas Ilhas Madeira, um conjunto de ilhas autónomas portuguesas localizadas na costa da África. 

O vinho Madeira é produzido em vários estilos, que vão desde os vinhos secos, geralmente consumidos sozinhos, como aperitivo ou em drinks, até aos vinhos doces habitualmente consumidos como ou junto à sobremesa. Existem ainda versões culinárias mais baratas, geralmente aromatizadas com sal e pimenta para uso na cozinha, embora sejam pouco adequadas para consumo como bebida.

No entanto nem todo vinho produzido nas Ilhas Madeira é considerado vinho Madeira, somente os fortificados, embora outros estilos de vinho sejam extremamente raros. O clima da ilha tem muita influência oceânica e semi tropical, somado a uma geografia montanhosa, umidade elevada com muita chuva ao longo do ano e temperatura predominantemente amena. 

Essas condições juntas criam um ambiente de grande dificuldade para o cultivo de uvas, ficando sempre sujeitas a doenças e perigos fúngicos em toda a região.

Origem do Vinho Madeira

Apesar da dificuldade do cultivo, as ilhas da Madeira têm uma longa história de vinificação, que remonta à Era da Exploração (aproximadamente a partir do final do século XV), quando a Madeira era apenas um porto de escala padrão para navios em direção ao Novo Mundo (as américas) ou às Índias Orientais (Índia, China, e extremo oriente).

Inicialmente, com a fundação do porto e o estabelecimento dos comerciantes e produtores, o vinho que era produzido na Ilha não era de qualidade ideal, frequentemente estragando no mar durante as viagens.

A fim de evitar as perdas e prolongar a vida do vinho, os produtores se basearam na idéia do Vinho do Porto, utilizando uma já tradicional técnica para evitar que o vinho estragasse: adicionar aguardente neutra ao mosto, um destilado simples de cana de açúcar para aumentar o nível de álcool. 

Nas longas viagens marítimas, os vinhos ficavam expostos ao calor excessivo e ao movimento constante do navio, que acabavam influenciando e transformando o sabor do vinho. Isto foi descoberto pelos produtores de vinho da Madeira quando um carregamento de não vendido regressou às ilhas após uma viagem de ida e volta.

Este vinho era conhecido como “Vinho da Roda”, pois era obtido após um ciclo completo de ida e volta. Com os compradores se mostrando muito interessados neste estilo de vinho, o método tradicional de esperar viagens inteiras para a produção do vinho se mostrava muito caro e demorado. 

Logo, os produtores estavam buscando métodos de reproduzir o método de envelhecimento do vinho na própria ilha, deixando os barris sobre cavaletes suspensos para movimentar o vinho e em estufas sob o sol, para simular o efeito do calor no envelhecimento.

Posteriormente, com a fama do vinho aumentado entre os compradores, foram exportadas uvas específicas para o clima da ilha, elevando a qualidade do vinho e o destacando entre os fortificados.

Como é produzido?

Com anos de tradição e desenvolvimento, atualmente ainda encontramos o vinho Madeira produzido de forma artesanal. As etapas iniciais da vinificação da Madeira começam como a maioria dos outros vinhos: as uvas são colhidas, esmagadas, prensadas e depois fermentadas em barris de aço inoxidável ou carvalho. 

As variedades de uva destinadas a vinhos mais doces são duas: Bual e Malvasia. Bual é o nome dado a várias espécies de uvas brancas de Portugal, principalmente a Malvasia Fina, amplamente utilizadas para vinhos de média doçura. Já a Malvasia é uma família de uvas ancestrais encontradas em todo mediterrâneo, utilizadas em vinhos brancos secos, doces e espumantes.

As uvas são frequentemente fermentadas em suas cascas para liberar substâncias que equilibram a doçura do vinho. Os estilos mais secos elaborados a partir de uvas tintas (principalmente a casta Negra Mole) são separados das cascas antes da fermentação. Dependendo do nível de doçura desejado, a fermentação do vinho é interrompida em algum momento pela adição de aguardente vínica neutra.

Os vinhos mais jovens (normalmente com 3 e 5 anos) passam pelo processo de envelhecimento em estufa para produzir o sabor característico da Madeira por aquecimento artificial, enquanto os vinhos destinados a envelhecimento prolongado são envelhecidos em barricas usando apenas as altas temperaturas naturais dos armazéns de barricas, através do sistema de “Canteiro”, locais próprios para envelhecimento dos barris.

Às vezes corantes como caramelo são usados ​​para dar alguma consistência, mas essa prática vem diminuindo.

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Tipos de Vinho Madeira

Os quatro principais estilos da Madeira, ou estilos nobres, são sinónimos dos nomes das quatro uvas brancas mais conhecidas usadas para produzir o vinho. Variando do estilo mais seco ao estilo mais doce, os tipos Madeira, do mais ao menos doce, são:

Malvasia

A Malvasia tem sua fermentação interrompida quando seus açúcares estão entre 63-117 g/L. Este estilo de vinho é caracterizado por sua cor escura, textura licorosa, densa e sabores de café e caramelo. 

Semelhante à outros Madeiras feitos a partir de castas nobres, a casta Malvasia utilizada na produção de Vinho Madeira Malmsey ou Malvasia tem naturalmente elevados níveis de acidez, que equilibra com os altos níveis de açúcar para que o resultado final não tenha um sabor enjoativo.

Bual

A casta Bual (também chamada de Boal e Malvasia Fina) tem sua fermentação interrompida quando seus níveis de açúcar estão entre 45-63 g/L. Este estilo de vinho é caracterizado por sua cor escura, textura levemente untuosa e sabores de uvas passas. 

Atualmente a uva é quase exclusivamente utilizada na produção de Vinho Madeira, com seus vinhos sendo os mais longevos entre os estilos nobres, podendo durar décadas.

Verdelho

O Vinho Madeira de Verdelho tem a fermentação interrompida um pouco mais cedo que a Sercial, quando seus açúcares estão entre 27-45 g/L. Esta uva é essencialmente famosa por seu uso na elaboração do Vinho Madeira, mas também em vinhos brancos fortificados no arquipélago dos Açores em Portugal. Este estilo de vinho é caracterizado por notas defumadas e alta acidez, perfeito para acompanhar nozes.

Sercial

O estilo Sercial é fermentado quase completamente seco, com muito pouco açúcar residual, apenas 9-27 g/L. A uva Sercial é uma uva branca portuguesa de casca fina cada vez mais rara na atualidade, com os maiores cultivos localizados nas Ilhas Madeira. 

Este estilo de vinho é caracterizado por cores fortes, geralmente dourado ou caindo para o tom do mel, e sabores amendoados e alta acidez, muito apreciados como aperitivo.

Outros estilos

Uma quinta uva nobre, a Terrantez, quase foi extinta na ilha, mas em tempos recentes têm visto um retorno promissor. O seu estilo varia em doçura do Verdelho ao Bual, nunca sendo tão seco como o Sercial nem tão doce como o Malvasia, tida como o perfeito meio termo.

Os vinhos elaborados com pelo menos 85% das castas nobres Sercial, Verdelho, Bual e Malvasia são normalmente rotulados com base no tempo de envelhecimento:

Colheita ou Colheita

Este estilo inclui vinhos de uma única colheita, mas envelhecidos por um período mais curto do que o verdadeiro Vintage Madeira. O vinho pode ser rotulado com uma data de safra, mas inclui a palavra colheita. O Colheita deve ter no mínimo cinco anos de idade antes de ser engarrafado.

Reserva Extra (mais de 15 anos)

Este estilo é raro de produzir, com muitos produtores estendendo o envelhecimento para 20 anos para uma safra ou produzindo uma colheita. É mais rico em estilo do que um Special Reserve Madeira.

Reserva Especial (10 anos)

Nesta fase, os vinhos são muitas vezes envelhecidos naturalmente sem qualquer fonte de calor artificial.

Reserva (5 anos)

É o tempo mínimo de envelhecimento permitido a um vinho rotulado com uma das castas nobres.

Vintage ou Frasqueira 

Este estilo deve ser envelhecido por pelo menos 19 anos em casco e um ano em garrafa, mas não pode ser comercializado antes dos 20 anos.

Finest

Um vinho rotulado como “Finest” é envelhecido por pelo menos três anos. Este estilo é geralmente reservado para cozinhar.

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Qual o sabor do Vinho Madeira?

O sabor do Vinho Madeira vai variar de acordo com o estilo, graduação alcoólica, nível de açúcar e tempo de maturação. Em geral, os brancos tendem a ser licorosos, doces, com notas defumadas e amêndoas, textura untuosa e acidez presente para equilibrar a acidez.

No caso de Vinho Madeira elaborado com uvas tintas, elaborados com a uva Negra Mole, tendem a ser frutados, com taninos extremamente suaves e notas de café.

Este estilo é mais próximo do Porto Tawny do que o Porto Ruby, tendo nuances carameladas, mel de flor, nozes e passas. Se a preferência for para o Porto Tawny, um Vinho Madeira certamente irá agradar.

Como harmonizar?

Nozes sempre serão uma ótima opção, assim como frutas secas, sobremesas amanteigadas, à base de caramelo ou de café, como bolo de nozes ou Tiramisu.

Para os estilos mais secos ou com acidez mais elevada, queijos de meia cura vão muito bem. Já os tintos mais adocicados podem harmonizar bem com queijos azuis intensos.

Mas além de uma boa opção de vinho de sobremesa, o Vinho Madeira funciona bem como um aperitivo, antes das refeições ou um digestivo, consumido após a sobremesa.

Para os mais ousados, o vinho madeira é muito utilizado como ingrediente culinário em diversos pratos. Mesmo com estilos específicos para uso na cozinha, é sempre possível criar seu próprio vinho culinário.

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Maiores produtores de vinho madeira

Pereira D’Oliveira

Pereira D’Oliveira é uma firma independente e de família, que se dedica à produção, comercialização e exportação de vinho da Madeira gerida desde o início da década de 70 pelos irmãos Luís, Aníbal (falecido em Junho de 2017), e Miguel (falecido em Agosto de 2018), descendentes diretos do Fundador João Pereira D’Oliveira.

Uma das famílias mais antigas de produtores da própria ilha, conta com estoques antigos fabulosos e mantém a tradição da produção, que vem ganhando destaque recentemente.

Blandy’s Madeira

A Blandy’s Madeira foi fundada por John Blandy em 1811 e é conhecida por produzir Vinho Madeira de qualidade ímpar. A família Blandy é uma das famílias fundadoras originais do comércio de vinhos Madeira e é a única família que ainda possui e opera sua empresa de vinhos original na ilha da Madeira.

Vinhos Barbeito

Vinhos Barbeito é uma casa familiar da Ilha da Madeira, localizada na costa sul, a 10 quilómetros a oeste do centro do Funchal. Fundada por Mário Barbeito de Vasconcelos, produz vinhos generosos desde 1946.

A casa produz uma vasta gama de vinhos sob a DOC Madeira, bem como vinhos de mesa seleccionados das castas Verdelho e Sercial. O portfólio de vinhos Madeira inclui ofertas de 3 anos, 5 anos, 10 anos, entre outros.

Principais rótulos disponíveis no mercado

Estes são alguns dos maiores produtores de Vinho Madeira da atualidade e também contam com os principais rótulos disponíveis no mercado internacional. Para comprar um vinho madeira certifique-se de que foi elaborado na Ilha, conferindo o nome de procedência com o estilo do vinho e a uva utilizada.

Conclusão

Embora já tenha sido apenas um porto a muito esquecido, existe um interesse crescente neste grande estilo de vinho, considerado um dos mais longevos de todo o mundo. 

Muito apreciado na Europa durante as navegações e nos Estados Unidos antes da Lei Seca, está surgindo um novo interesse neste estilo de vinho, com os produtores tradicionais acompanhando a tendência de renovação da indústria do vinho, focada em qualidade ao invés de quantidade.

E quando esta tendência de renovação alcança um estilo clássico de qualidade como este, todos podemos aproveitar.

Saúde!

Sidnei Fernandes,

Equipe de Marketing do Sonoma Market.