Por que esses vinhos são tão valorizados e quais são os que mais valem a pena procurar?
Nesta matéria de 3 partes, vamos explorar um pouco esses temas. Veja alguns dos assuntos que vamos abordar:
- Os vinhos de Montalcino, afinal, o Brunello não é a única denominação local que vale muito a pena conhecer;
- Os distintos terroirs da região: aqui você vai entender de uma vez por todas porque nem todo Brunello é igual;
- As últimas safras disponíveis no mercado: o que você precisa saber na hora de comprar. Quais as diferenças entre as safras de 2009, 2010, 2011 e 2012?
- Qual seu estilo de Brunello preferido? Dicas para se dar bem com os melhores achados;
E por fim,
- Os segredos da região que ninguém quer que você saiba…
Bora, começar?
Ao visitar Montalcino, região que fica ao sul da província de Siena, ficará impressionado. Vales verdes, colinas cobertas por vinhas velhas protegidas do vento por pequenas colinas… é uma volta no tempo, a uma época mais bucólica e histórica. Dá para imaginar que a paisagem é a mesma de 200 anos atrás?
Na verdade foi bem diferente. A grande maioria dos vinhedos na região foi plantada após 1995, época em que o apetite voraz dos norte-americanos para o Brunello di Montalcino mudou o mercado de vinhos na Toscana. Há 39 anos, quando o Consorzio di Brunello di Montalcino foi prestigiado com status DOCG, só havia 11 produtores na área; hoje ultrapassam os 250, e são mais de 3 mil hectares de vinhas espalhadas pela pequena denominação.
Mas…não é só Brunello que se bebe em Montalcino. Antes de aprofundarmos mais no tema, vale ressaltar que este não é o único vinho da região de Montalcino, há outras 4 denominações que produzem bons tintos e brancos, cada uma com características únicas e diferentes regras de produção.
Vinhos da região
Rosso di Montalcino
Pertence à categoria DOC (denominazione di origine controllata) , elaborado 100% com Sangiovese Grosso, uva também conhecida como Brunello. Deve ter no mínimo 12% de álcool e amadurecer por um ano antes de ser comercializado.
A ideia por trás do Rosso di Montalcino era ter um vinho mais em conta e dar saúde ao capital de giro das vinícolas. É que demora no mínimo 5 anos para um Brunello chegar ao mercado, entre os anos de estágio em barrica e na garrafa. Para os pequenos produtores que não têm grandes fluxos de caixa ou outros negócios, o Rosso di Montalcino foi uma solução linda. A ideia evoluiu muito nos últimos anos, e o Rosso é um vinho bem flexível, podendo ser produzido em diferentes estilos.
Os Rosso podem ser elaborados com uvas da denominação Rosso di Montalcino ou receber uvas da classificação Brunello, em safras desafiadoras em que há muitos “Brunellos desclassificados”. Nesses casos, a seleção das uvas é tão rigorosa quanto a de seu primo famoso. Rossos elaborados com uvas de Brunello “desclassificados” são belos achados! Amantes do estilo podem abastecer suas adegas com esses “baby” Brunellos por 30 % ou 40% do preço!
Sant’Antimo
Existem tintos e brancos que podem ser chamados de Sant’Antimo; cepas internacionais são permitidas. Os tintos podem usar uvas “estrangeiras” como a Cabernet Sauvignon ou a Merlot, desde que misturadas com Sangiovese não mais que 50% do corte. O vinho branco pode ter Chardonnay, mas 80% deve ser Pinot Grigio. A denominação pertence à categoria DOC.
Moscadello di Montalcino
Elaborado 100% com Muscadello Bianco, é um vinho feito com uvas passas de colheita tardia e envelhecido por dois anos antes de ser comercializado. Os melhores são intensos e de sabor complexo e amável. Categoria DOC. Muito raro no Brasil, quase nunca chegam! Mas valem a pena procurar, são excelentes!
Brunello di Montalcino
O vinho do topo da pirâmide, elaborado 100% com Sangiovese Grosso, é amadurecido por no mínimo 2 anos em barricas e seis meses em carvalho. Se for da categoria Riserva deve ficar 3 anos em barricas e pelo menos dois em garrafa antes de ser comercializado. Este é considerado um dos grandes vinhos italianos e a expressão máxima da uva Sangiovese. É o único DOCG.
Métodos de produção
Produtores tradicionais seguem o jeito antigo de fazer. Os vinhos são envelhecidos em grandes botti de 25 a 50 hectolitros – toneis feitos de carvalho eslovaco, madeira que tem mostrado a melhor capacidade de permitir que esses vinhos ganhem estrutura e “redondeza”, enquanto mantém frescor e sabor único. Raramente são barris novos, e a superfície de contato do vinho com a madeira é menor, permitindo apenas uma pequena passagem de oxigênio. Os vinhos que estagiam da forma tradicional têm grande potencial de envelhecimento, mas podem demorar para se abrir.
Já os produtores modernos usam barricas de 500 litros feitas de carvalho francês. Elas são caríssimas, mas são procuradas por causa dos sabores de baunilha e chocolate que podem transmitir ao vinho, especialmente se forem barris que passam por tosta antes do uso. Esses sabores, historicamente, têm sido desejados pelos consumidores americanos, chineses e também brasileiros, especialmente nos anos 1990 e começo dos 2000. O aumento da micro oxigenação significa que os vinhos são mais fáceis de se apreciar quando jovens, porém em alguns casos têm menor potencial de envelhecer bem.
As possibilidades de experimentação com barris diferentes, carvalho novo ou velho, e meses de envelhecimento são inúmeras, mas as escolhas do produtor após colher contribuem em apenas 10% no resultado final do vinho. “Grandes vinhos são criados, e não feitos”, nas palavras de Angelo Machetti, gerente do badalado produtor Mastrojanni.
E para criar um grande vinho, você precisa ter um grande terroir. Na segunda parte dessa matéria, vamos explorar os diversos terroirs do Montalcino e aprenderemos em quais apostar (e quais evitar também…).
Alykhan Karim
Os melhores vinhos você encontra na Sonoma.