Se os vinhos fossem monstros de Halloween, quais seriam?
Dia desses, chegamos ao Sonoma e surpresa: algodões imitando teias de aranha na parede, velas, abóboras, um machado enorme, caveiras e morcegos para todos os lados.
É Halloween!
E cada monstro tem suas características… Quais vinhos possuem as mesmas?
É que tem um baile super especial na noite de Dia das Bruxas do mundo dos vinhos, e quem vai à festa fantasia são as garrafas.
Mas… Nessa brincadeira quem é quem?!
Bruxa, a anfitriã – Nebbiolo
O dia é das bruxas, e claro que é ela a realizadora desta festa. Mas não é da bruxa de narigão e uma verruga bem na ponta que estamos falando. Essas, na verdade, só aparecem depois de seduzir a ingênua vítima e dar-lhe o bote.
Antes disso, sob a magia de seu feitiço, ela é sensual, de cabelos negros compridos e uma magreza de dar inveja. Fica ali, sentada na poltrona vermelha esperando pelos convidados.
E quando eles chegam no portão, a neblina já está a pino, e a porta se abre só com sua mirada.
Neblina tem muita a ver com a uvinha por baixo da peruca – Nebbiolo é o nome dela (e vem justamente a névoa que cobre as plantações do Piemonte).
De pela fina, mas resistente por dentro, poderosa como nossa amiga e seu gato preto.
Leva ao primeiro gole pelos aromas sedutores e dá o bote em seguida, na boca. Como num feitiço, deixa ela cheia de taninos.
Cavaleiro sem Cabeça, mas brilhante – Champagne
Sempre o primeiro da noite a chegar (talvez por ser o único “motorizado” da turma), percebe-se de longe a aproximação do cavaleiro mais interessante da cidade. O único problema: ele costuma perder fácil a cabeça…
O cavaleiro sem cabeça sempre foi forte, um lutador, e foi em uma guerra que perdeu seu membro mais importante. Mas nem por isso deixou de cavalgar pelas ruas, geralmente à noite, esbanjando elegância e predizendo a morte alheia.
Mas ele… Ah, ele nunca morre… Está cada vez mais brilhante e espectral, como se a cabeça nem lhe fizesse falta.
Ele deixou o cavalo do lado de fora, mas suas mãos sem rédeas logo se ocuparam de uma taça.
Uma taça, assim como ele, brilhante; uma taça, assim como ele, nobre e elegante; uma taça de Champagne, meus amigos, que assim como ele, perdeu a cabeça (ou a rolha?) numa explosão de canhão, mas só ganhou mais poder depois disso.
Caveira, o que resta quando o resto se vai – Icewines
Depois que todo o corpo se vai, resta apenas aqueles ossinhos que assombram pelos corredores.
Assim acontece com os Icewines. Depois que as baixíssimas temperaturas congelam todo seu suco, resta somente o açúcar, uma porcentagem mínima do corpo da uva, tal como acontece com as caveiras: depois que todo o corpo se vai, resta apenas a parte mínima dele, os ossinhos.
Diabinho: doce, mas do mal – Vinho do Porto
Cada vez que ele aparece, parece uma pessoa diferente. Chega ali, de mansinho, bonzinho e gentil. Doce, bem doce. Mas é só dar trela a esse eterno maloqueiro para sentir o fogo que arde em sua alma, igualzinho ao do lar de onde vem.
O diabinho só mostra seus chifres, seu sorriso embreagante, sua força e seu calor depois de conquitar a vítima por completo.
Doce no começo – doce, bem doce. Mas logo você se dá conta de que é um fortificado, cheio de álcool. Beba um taça, duas, parece “facinho”, mas quando o Vinho do Porto te conquista, aí você percebe do que seus mais de 20% de álcool são capazes.
Fantasma e a breve aparição – Pinot Grigio
Se ainda não viu o ilustre convidado, é somente questão de tempo, isso porque é certo que ele virá te assustar em algum momento da festa. Invisível, toma forma e logo some – sua aparição é breve, mas certeira.
Clarinho que só ele, o Pinot Grigio pode, por vezes, se passar por transparente. Basta uma giradinha na taça para notar que ele está lá, na espreita, pronto para o susto.
Leve-o à boca e notará sua presença mais do que nunca – a acidez lá em cima é responsável por isso -, mas ele logo se vai, sem deixar rastros.
Frankenstein, um pouco de cada um – Douro
Erroneamente, muitas pessoas chamam aquele monstro todo costurado, de aparência medonha e pele esquisita de Frankenstein, mas a verdade é que ele não tem nome. Victor Frankenstein foi o doutor que criou o monstro, costurando peles de vários cadáveres e, então, a criatura ficou conhecida com o nome de seu criador.
E qual vinho poderia se fantasiar de tal criatura para uma festa de Halloween? Nada mais, nada menos do que um vinho montado, produzido com vários cortes. Esses dias bebemos um português que, facilmente se vestiria de “Frankenstein” para um baile à fantasia.
Feito com muitas uvas (25, para sermos mais exatos), o “Frankenstein de Portugal” remete justamente à uma característica dos vinhos do Douro: um corte cheio de uvas, tal como a criação de Victor.
Por falar nisso, o monstro, no final das contas, tinha um bom coração. Ganhou vida após ser costurado com pedaços de outras pessoas, tal como os vinhos portugueses precisam ser bordados a muitas uvas para ganhar esse corpo que conquista tantos paladares.
Lobisomem e seu cheiro de terra molhada – Pinot Noir
Bom moço, simpático, gentil e cavalheiro. Muitas vezes, é até um galã. Geralmente são assim os personagens de lobisomem que nos apresentam nas histórias, antes de surgir a lua cheia e ele se transformar num perigoso e selvagem lobo!
Não que os Pinot Noirs sejam perigosos (o único risco que oferecem é que você se apaixone por eles), mas os mais bem feitos e complexos exibem muitas notas terrosas, que lembram as florestas por onde andam os lobos pela noite. Também não economizam nos toques animais e selvagens, de couro.
Então, se fosse para um Pinot Noir se fantasiar para um baile de halloween, certamente se transformaria em um selvagem lobisomem na aparição da lua cheia!
Morte, o caminho para a escuridão – Monastrell
É num cantinho da festa que está ela. Discreta, vive escondendo o que há por baixo do manto preto na penumbra – mas a foice está sempre lá, afiada e brilhante, prestes a dar o bote. Ai de quem cruzar o seu caminho, pois não tem volta.
Como é, afinal, a cara do Morte?
Não se sabe, mas uma coisa é certa: seu manto é preto, escuro… Nada se vê por meio dele quando servido o vinho, e o brilho da foice por vezes reluz à taça.
O cheiro?
Frutas negras, pimenta-preta, rosas, fumaça. Se não é fúnebre, remete a escuridão.
Não precisa nem levar à boca, é um típico Monastrell espanhol. E daqueles bem concentrados, nascidos de vinhas centenárias.
Múmia… Até quando?! – Barolo
Feitas para durar até a outra vida (aquela após a morte), as múmias egípcias passavam por uma série de procedimentos que garantisse a conservação do corpo.
Além de toda o tratamento espiritual, recebia também camadas de óleos, bálsamos e outras soluções. E dá-lhe faixas nele.
Para fantasiar-se de múmia, o vinho não poderia ser diferente. Afinal, vai saber quando a vida após a morte chegará? 20, 30, 40… 100 anos?! Pois é dos Barolos que estamos falando.
No lugar das soluções, este ganhou acidez altíssima, e das faixas, taninos potentes…
Quase feito uma múmia, este ícone piemontês nasce prestes a passar décadas na adega – até que o momento ideal chegue.
Melhor mesmo é não tirar as suas faixas antes de a hora chegar. Infanticídio, dizem do “crime” que é abrir um Barolo antes da hora.
Vampiro, o “pop” da turma – tinto da Búlgária
E é quando a festa já está rolando que à porta surge o “pop” da turma, aquele que faz todo mundo virar os rostos para ver: o vampiro.
Se existe um monstro que desperta fetiche nas pessoas, é ele. Vida eterna, sedução, jovens, lindos e elegantes para sempre. Ok, o preto e branco Nosferatu não era tão assim, e o clássico conde Drácula de Gary Oldman dava um pouco de medo, mas o vampiro que bebe vinho no Halloween é mais parecido com as releituras de Brad Pitt e “Crepúsculo”.
Um ser da noite, pálido como a luz da lua, de olhar atraente, envolvido de luxos.
Alguns vinhos são assim, conseguem aguentar longas décadas na adega sem perder essa sensualidade (claro, sempre ao abrigo da luz). Além disso, tintos de longa guarda acabam por evoluir em notas que lembram ferro e, por sua vez, sangue.
Quem está por baixo da máscara é assim, carrega sangue até na cor, e uma acidez que deixa o vampiro sedento, salivando…
É um tinto da Bulgária! E se tiver mais de 10 anos, mostra ainda mais todas essas características.
Mas o melhor?
Veio voando de pertinho da Transilvânia!
Zumbi, a necrose ambulante – Jerez
A coloração verde (ou âmbar) da pele não é em vão… O zumbi está morto, literalmente necrosando. Mas da morte acordou e sabe-se Deus quando vai voltar a dormir…
Ao cheirar a taça, vai sentir exatamente o oxidado da putrefação em pleno exercício.
Na verdade, todos os sinais deixam isso claro: oxidado, frutas passadas, flores murchas…
Mas este zumbi em questão não é qualquer um, não. Trata-se de um gentleman espanhol, o Jerez. Vinificado em barris abertos, o vinho base para o fortificado já nasce praticamente morto. Desde a cor, aos aromas e sabores.
Tudo indica isso.
Mas passa por uma série de processos que lhe dão vida e, mesmo assim, a ponto de ser considerado um dos mais complexos e equilibrados de todo o mundo.
Mas melhor não perguntar como é despertado da morte (se quiser saber, clique aqui).
E que tal aproveitar o clima de Halloween para imprimir um poster com os rótulos mais arrepiantes? Aqui.
Se inspirou e tá afim de dar aquela festa de Halloween?
Então veja nossas receitas assustadoramente deliciosas, ou se você prefere uns docinhos mais básicos, veja como harmonizá-los com vinho!.
Na Sonoma você encontra os melhores vinhos.