Chile ultra premium
Ayer, hoy, mañana: ultra premium y diversidad.
Da uva Pisco, em Copiapó, no extremo norte do país, à Moscatel de Alejandría, na fria região austral de Osorno, e da Cordilheira à costa do Pacífico, quando o assunto é viticultura, o Chile é plena diversidade.
Não concorda? Não tem problema. Afinal, durante muitos anos o Chile construiu sua imagem em torno da produção em altíssima escala de vinhos, orientados por custo-benefício, Cabernet Sauvignon, Carménère e ponto.
Em um de seus mais conhecidos poemas, o poeta andaluz António Machado dissolve certezas sólidas e enfatiza a fluidez da existência: “caminante son tus huellas el camino y nada más; caminante, no hay camino, se hace camino al andar”.
Construindo com protagonismo seus caminhos, hoje o Chile é um dos principais exportadores de vinho do mundo, o mais destacado do Novo Mundo, na mesma página em que estão França e Itália.
Em 2020, alcançou a liderança global em volume, com 53 milhões de caixas (com seis garrafas em cada) despachadas para o exterior. No primeiro semestre de 2021, ampliou em 5% o volume e em 14% a receita, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Números do setor vitivinícola chileno:
- 0,5% do PIB
- 800 vinícolas ativas
- 394 empresas exportadoras
- 92% das vinícolas estão foram da Região Metropolitana de Santiago
- 82% da produção é exportada
- 23,2 milhões de taças de vinho chileno são consumidas no mundo por dia
- 1º Lugar em exportações para o Brasil
Quanto ao mercado brasileiro, o Chile tem planos ainda mais ousados. Embora as exportações tenham crescido 39,3% em 2020, o valor médio caiu 11%. Talvez os reflexos da Pandemia da Covid-19 ajudem a explicar. Por outro lado, o país andino ambiciona alcançar 7% das vendas para o segmento ultra premium no Brasil (hoje representa apenas 1%).
Excelente notícia! Os grandes vinhos chilenos estão entre os melhores do mundo.
Julgamento de Berlim
O badalado Julgamento de Berlim (possivelmente inspirado no célebre Julgamento de Paris, em 1976) merece destaque como um reluzente holofote que destaca a excepcional qualidade de grandes tintos chilenos (Dom Maximiano, Seña e Viñedo Chadwick) comparados a alguns dos mais emblemáticos Grand Cru Classés de Bordeaux e Supertoscanos.
Na ocasião, Eduardo Chadwick convidou o renomado jornalista Steven Spurrier e mais 35 dos paladares mais exigentes e respeitados do mundo para uma degustação às cegas. Era janeiro de 2004, no recém-inaugurado Ritz Carlton, na capital alemã.
Dez anos mais tarde, em seu novo livro sobre o evento, Eduardo compartilha a sensação do resultado:
“Os resultados dos 16 vinhos provados foram entregues a Steven e ele leu os 10 melhores em voz alta de baixo para cima. Eu não sabia a ordem dos vinhos e não tinha ideia de como eles haviam sido classificados. Quando soube que o Seña 2000 tinha empatado com o Margaux 2001 para o quarto lugar, fiquei muito satisfeito e feliz e comecei a relaxar porque pelo menos um dos nossos vinhos estava entre os cinco primeiros. Em seguida, Lafite 2000 foi anunciado em terceiro lugar. A tensão estava aumentando e a grande surpresa veio quando Steven anunciou o Seña 2001 em segundo lugar… seguido por Viñedo Chadwick 2000 em primeiro lugar!”
Inesperado? Pode ser. O silêncio na sala foi interrompido com uma efusiva salva de palmas.
Confira o resultado:
1 Viñedo Chadwick 2000
2 Seña 2001
3 Château Lafite Rothschild 2000
4 Château Margaux 2001
4 Seña 2000
6 Viñedo Chadwick 2001
6 Château Margaux 2000
6 Château Latour 2000
9 Don Maximiano Founder’s Reserve 2001
10 Château Latour 200110 Solaia 2000
Acaso? Sorte?
Com certeza não. Assim como o Julgamento de Paris, a degustação de Berlim se repetiu em novas datas e locais e confirmaram o resultado original.
Durante dez anos, Eduardo Chadwick organizou outras 22 degustações às cegas (São Paulo, Pequim, Tóquio, Londres, Nova York, Los Angeles, Zurique, Dubai, etc) e seus vinhos sempre estiveram muito bem colocados, posicionando ao menos um deles entre os três primeiros lugares em 90% das vezes, em comparação com os melhores tintos de Bordeaux e da Toscana.
Destaques ultra premium
Casa Lapostolle “Clos Apalta” 2016 (Biodinâmico)
Um símbolo do Chile, sofisticado e complexo, assinado pela família Bournet-Lapostolle, com 99 Pontos Suckling. Um privilégio!
VIK Tinto 2013
Sem dúvidas, este é um dos melhores vinhos chilenos hoje. Elegante e bem estruturado, este blend de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Carmenère e 2% de Merlot, é exuberante e robusto, dono de complexidade e longevidade invejáveis. Certamente seguirá evoluindo na adega ao longo dos próximos 10-15 anos, permita-se.
Miguel Torres Escaleras de Empedrado Pinot Noir 2014
Elegante e sofisticado, o projeto mais ambicioso da emblemática Miguel Torres, que levou 20 anos para se concretizar na D.O. Empedrado, um terreno acidentado, com encostas incrivelmente íngremes e em solo de ardósia. Um tinto fascinante!
Casa Lapostolle “Le Petit Clos” Tinto 2014
Petit Clos Apalta, literalmente. Uma expressão sofisticada e complexa, elaborada nos moldes bordaleses pela família Burnet-Lapostolle. Sempre muito bem avaliado pela crítica internacional. Imperdível!
Diversidade
Começamos este ensaio citando o Chile como um campo pleno em diversidade. São diversas regiões em toda sua ampla extensão de norte ao sul e também distintos terroirs da Cordilheira ao Pacífico.
Neste lindo horizonte de perspectivas e possibilidades, o êxito dos vinhos chilenos ultrapassa a excepcional qualidade dos seus vinhos icônes, alcançando a imensa maioria de seus rótulos. Caminhos sem volta, para a felicidade de todos os gostos e bolsos.
Destacamos o Annual Report “A different Chile: Greatness beckons, but is it a leap too far?” publicado em Junho/2021, pelo renomado crítico James Suckling.
Neste documento, apresenta suas conclusões a respeito da degustação que abrangeu 1.065 vinhos, dos quais 86% (ou 920 rótulos!) foram classificados com 90 Pontos ou mais. Um resultado que apontou números mais expressivos do que em anos anteriores, um novo recorde para o Chile.
Segundo Suckling, “o país andino está produzindo vinhos de excelente qualidade e notável valor, características consolidadas pelas fantásticas safras de 2018 e 2019”.
Manter e superar estes números no futuro será um desafio que exigirá esforços conjuntos tanto dos grandes produtores, quanto das bodegas boutique.
Conheça alguns destaques que comprovam a excelente qualidade da diversidade dos vinhos chilenos, elaborados tanto por produtores badalados, pequenas famílias e articulados pelo MOVI – Movimiento de Viñateros Indepedientes.
Já provou um vinho do extremo norte do Chile, nas alturas do desértico terroir de Elquí? Blend de complexidade e elegância e também de Syrah, Garnacha, Petit Verdot e Petite Syrah, este é o Alcohuaz “Grus” Mezcla Tinta 2018, considerado “Superb” por Robert Parker, com 93 Pontos. Primoroso!
Para além da Cabernet Sauvignon e da Carménère, a Syrah deixou de ser promissora no Chile. Hoje é uma realidade! E muito bem apresentada pelo casal francês Lorena e Damien Laurent neste instigante e irresistível Laurent Generoso Syrah 2019 (Orgânico/Natural). Descubra.
Trazida ao Chile pelos espanhóis no distante século XVI, a casta País tem sido resgatada por inúmeros produtores artesanais. E, claro, a renomada Miguel Torres também abraçou a causa! De vinhas centenárias, elabora no terroir de Bío Bío o Miguel Torres Millapoa Pais 2019, que esbanja história e vivacidade, com 94 Pontos Descorchados!
E que tal um vinho branco? Sauvignon Blanc de Casablanca? Chardonnay do norte? Excelentes vinhos, mas este destaque vem de outro lugar: do Valle de Malleco, no extremo sul do país, o que o caracteriza como um Vinho Austral. Este é o Los Confines Vino Naranja Moscatel de Alejandría 2019 (Orgânico/Biodinâmico/Natural), uma irresistível surpresa! A safra anterior foi “Vinho Revelação” pelo Descorchados 2019, com 93 Pontos. Um achado!
Hora de desfrutar os vinhos chilenos! Um Universo à parte, para além dos estereótipos, onde o céu é o limite.
¡Chi-chi-chi, le-le-le. Viva Chile!
Saludos,
Rafael Campoy
Equipe Sonoma Market