O ano era 150 a.C., e os celtas gauleses já passavam seus dias colhendo cachos de uvas perfeitas, bem redondinhas, aveludadas. Sua cor? Violeta profundo, do mais escuro que se poderia achar em uvas, quase negro.
Era a Pinot Noir. Mais de 2 mil anos depois, ela continua fascinando o paladar de todos aqueles que provam os vinhos nascidos de suas castas. É chamada de sublime, elegante, incomparável.
A região antes cultivada pelos gauleses daria lugar à atual Borgonha (Bourgogne, cidade ao sudoeste da França). Por todo esse tempo, a Pinot Noir era e é cultivada lá.
Apenas em 1990 surgiram tentativas de plantação desse tipo de uva em outras partes do mundo: Nova Zelândia, Oregon, Califórnia.
Mas a fama de Borgonha já estava feita. Os vinhos produzidos através dessas uvas são consumidos por dezenas de países em todo o globo, e há extremistas que digam que os únicos vinhos de Pinot Noir que valem à pena são os da Borgonha.
Outros apreciadores menos radicais também elogiam os vinhos de outros países, mas há certo consenso de que ninguém faz um Pinot Noir como na Borgonha. Seria verdade?
Obviamente, mesmo sendo a mesma uva, nenhuma casta é idêntica à outra. A Pinot Noir é definitivamente uma videira extremamente exigente e difícil de cultivar: se alguma mudança da temperatura ou do solo ocorrer, não há nada que se possa fazer.
O vinho deve ser perfeito. O clima precisa ser fresco e totalmente equilibrado. Se fizer frio demais, os vinhos sairão pálidos e de sabor empobrecido. Se fizer calor demais, as uvas amadurecerão mais cedo e o vinho sairá com um sabor tostado que estragará a elegância típica da Pinot Noir.
Ou seja, tudo deve ser impecável.
A explicação que os franceses dão à perfeição da Pinot Noir de Borgonha é “le terroir”- uma tradução mais próxima seria “o local”: no geral, a conjunção entre clima, solo, terreno, ambiente e situação da videira.
A variação e majestosa diferença de todos os vinhos de Pinot Noir de Borgonha (da Côte de Nuits à Côte de Beaune) são imensas, e seus aromas são riquíssimos, indo de morango silvestre à sumo de carne com especiarias.
Há vinhos que são feitos para consumo rápido, mas os mais apreciados podem amadurecer por até 20 anos (os da Côte D’Or).
Mas e os outros países? Sim, eles também podem produzir vinhos excelentes, todos eles bem diferentes entre si. A Nova Zelândia é considerada, juntamente com o Oregon, o segundo melhor lugar para o cultivo da Pinot Noir, e seus vinhos possuem um toque mais intenso.
No Oregon, a Pinot Noir se deu bem na região de Willamette Valley, com destaque para as regiões de Napa e Sonoma, produzindo vinhos mais frutados e de boa maturação (entre 7 a 10 anos).
A Califórnia também produz vinhos muito bons, geralmente com aromas de framboesa e cereja, com toques de carvalho.
Mas o que dizer sobre a América do Sul? Na Argentina, o cultivo da Pinot Noir tem mais saída para formar a base de espumantes (o tradicional champagne possui uvas de Pinot Noir em sua espinha dorsal), mas o vinho tinto também é apreciado, puxando o aroma para beterraba e terra.
O Chile também vem produzindo vinhos de Pinot Noir que estão surpreendendo muitos paladares. Já no nosso País do Carnaval, a luta para o cultivo da Pinot Noir tem sido grande, exatamente por conta do clima que faz o nosso carnaval ser famoso. Resumindo: o Brasil é quente demais para essa uva.
Mas, graças à nossa extensão territorial, conseguimos uma boa produção no Rio Grande do Sul, e, recentemente, em Santa Catarina. Muitos vinhos têm sido elogiados, como o Dal Pizzol, que traz um aroma de frutas vermelhas e ervas, com notas florais ao fundo.
A Pinot Noir no estrelato – O vilão Merlot
Em 2004, um filme americano teve um grande impacto na venda de vinhos, que ainda pode ser visto no mercado, mesmo depois de nove anos. “Sideways” conta a história de um homem chamado Miles, que dá de presente de despedida de solteiro uma viagem por vinícolas da Califórnia ao seu amigo Jack.
No decorrer da história, os dois se envolvem com duas mulheres, e as indagações e o drama pessoal de cada um fazem a trama do filme. A questão é: Miles deixa clara a sua predileção por vinhos de Pinot Noir e seu ódio mortal por vinhos feitos da uva Merlot.
Falas bem marcantes do filme (como “No, if anyone orders Merlot, I’m leaving.” ou “Mmmm, that’s 100% pinot noir!”) acabaram seduzindo os telespectadores e fazendo a cabeça de muita gente, que passou a idolatrar a Pinot Noir e detestar a Merlot, porque isso parecia o certo a se fazer.
Afinal, se o cara entendedor de vinhos do filme tem essa opinião, não tem como eu errar repetindo o que ele fala.
A grande verdade é que essa preferência do personagem foi uma crítica à produção desenfreada de vinhos Merlot nos EUA, onde alguns (não todos, óbvio) acabaram perdendo a qualidade.
Independentemente disso, é sempre importante e mais espontâneo ter opiniões baseadas em suas próprias análises. Mesmo porque, os vinhos de Pinot Noir podem ser extremamente diferentes entre si.
E se numa dessas alguém te perguntar qual tipo de Pinot Noir você mais gosta, não vai dar pra gaguejar e responder “Aquele do cara do filme”.
O vinho é uma bebida pessoal, individual e muito íntima. Então, o mais gostoso é beber e tirar nossas próprias conclusões.
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