Você sabe o que é um vinho laranja?
Se você já visitou algum dos wine bars mais cool das grandes capitais como o Sede 261 ou Beverino em São Paulo já deve ter visto algum no cardápio.
Engraçado que vinho laranja tenha virado moda na última década, pois é um fenômeno que existe há millenia!
Vinho laranja é nada mais do que um vinho branco feito como se fosse um tinto, ou seja, com contato extenso, de dias ou até semanas, entre o suco da uva recém prensada e as bagas das cepas.
Geralmente um vinho branco não tem contato prolongado com as cascas de uvas após a prensa, e justamente por isso não tem tanino (aquela sensação de bochechas seca, a mesma que sentimos ao comer um chocolate amargo, tomar um café ou degustar um vinho tinto).
Já o vinho tinto é feito através de um contato prolongado com as cascas, durante o processo de fermentação e após, fazendo com que vinho tinto adquira sua coloração, tanino e estrutura.
Imagine se um vinho branco tivesse estas características? Coloração mais escura, taninos de leve, uma estrutura mais pronunciada… seria um… vinho laranja!
Acredita que o vinho laranja foi produzido inicialmente nas montanhas de Geórgia e Azerbaijão, milhares de anos atrás? Entre as primeiras culturas a produzirem vinho desde aquela época, o vinho laranja também era desejado, e em Georgia nunca caiu da moda. Lá o vinho laranja é armazenado em ânforas de argila que oferecem um micro oxigenação (permitindo evolução) e também um aporte adicional de cor laranja.
Hoje o vinho laranja é feito ao redor do mundo e algumas das maiores versões saem da América do Sul. São uma ótima ideia para uma harmonização com os pratos da culinária brasileira mais elaborados do verão e outono, pois possui uma grande versatilidade na mesa: desde galetos na brasa a um camarão ao alho e olho, até um porco com purê de maça com feijão tropeiro ou peixes carnudos como tambaqui e pirarucu, grelhados ou numa moqueca (estamos salivando aqui só de escrever).
Muitos dos vinhos laranjas são feitos de forma natural, ou seja, à base de uvas sem agrotóxicos, sem adição de leveduras, sem afinamento ou filtração, sem estabilizantes químicos (sim, infelizmente muitos dos vinhos mais baratos contêm estes), e sem sulfitos também.
Aromas e sabores naturais
Conheça aqui alguns dos vinhos laranjas mais interessantes do verão 2023:
Imigrantes do norte da Itália, sediada na Serra Gaúcha há 3 gerações, a Família Faccin produz vinhos laranjas naturais muito interessantes, levemente alaranjados, de castas do norte da Itália.
O Faccin Riesling Itálico 2021, elaborado com uma casta pouca plantada hoje no país de origem mas uma que virou sucesso na Serra Gaúcha, oferece uma cor bem alaranjada na taça, totalmente turvo também, com notas de cera de abelha, laranja kincan, cardamomo e laranja Bahia. Em boca, foi lindo, nos deixou salivando, com excelente acidez, um leve azedinho, um salgadinho surpreendente no final. Muito bom este vinho!
Já o Faccin Malvasia Bianca 2020 traz uma raridade na viticultura brasileira, feito a partir da casta Malvasia Bianca, uva originária da ilha de Creta e trazida e cultivada aqui pela família Faccin.
Dificilmente se encontra um vinho mais perfumado que este, um bouquet complexo e exótico com nuances de pêssego e nectarina maduros, notas de mel, com um toque floral e especiarias doces como canela. Em boca desceu leve, com acidez suculenta e o leve azedinho característico, um vinho que convida a próxima taça.
Refletindo a curiosa combinação do estilo irreverente e tradicionalista do enólogo Marcelo Miras, “A nova luz da Patagônia” de acordo com o especialista James Suckling, este é um vinho laranja que lembra um rosé.
Feito com Corinto e Moscatel de Alexandria , este vinho é 100% natural, sem filtragem ou adição de sulfitos. Este é um exemplar perfeito para se conhecer o vinho laranja, com taninos levíssimos, aromas de tangerina e lavanda e equilibrado frescor mineral.
Uma verdadeira raridade de boutique, o trabalho do enólogo Manuel Moraga Gutierrez é pautado por uma filosofia de produção 100% natural, resgatando e aplicando técnicas ancestrais de vinificação, com menor intervenção possível.
Através da vinícola Cacique Maravilha, ele cultiva vinhos naturais e biodinâmicos no Vale do Bio-Bio, no Chile. Entre suas criações está este vinho laranja, no sentido mais autêntico possível.
De coloração levemente rosada e turva, este é um vinho não filtrado, com aromas sutis de damasco e brioche, notas cítricas no sabor com taninos levíssimos e leve frisante. Elegante e refrescante, com um perfil animalesco e encantador.
O Vale do Itata tem sido por gerações um berço no cultivo de Moscatel de Alexandria. Neste cenário bucólico com um misto de aura rústica chilena com arquitetura italiana, a Viña Zaranda elabora este encantador vinho laranja.
Traz um tom misterioso em sua coloração amarelo turvo, aroma floral intenso, notas de especiarias orientais e água de rosas. Este mistério dá lugar a um vinho austero e fresco, notas herbáceas nítidas e um leve amargor remanescente de chá gelado, um vinho simplesmente brilhante.
Em uma pequena vinícola do o Vale do Cautín, com poucos hectares de Moscatel de Alexandria de vinhas de 70 anos completamente integradas à natureza, nasce este singelo vinho laranja.
Um vinho elaborado com o mínimo de intervenção humana, conservantes ou filtragem, com a rolha lacrada com cera à moda antiga. Traz aromas de damasco, nectarina e flor de laranjeira, com corpo cremoso e sabores de tangerina e notas de mel e cera de abelha. Surpreendente.
Desvende os sabores naturais
Os vinhos laranja tem sido uma verdadeira fonte de inspiração e dedicação de grandes referências do mundo dos vinhos, impulsionados por filosofias de vinificação natural e integração sustentável com a natureza.
Grandes expressões de sabores naturais, adquiridos por meio do resgate de tradições ancestrais, hoje disponíveis a valores acessíveis. Aproveite esta experiência e prove da inspiração dos grandes enólogos desta geração.
Salut!
