Seja você um entusiasta de vinho iniciante, um apreciador veterano ou tenha visitado recentemente a Argentina, certamente deve ter ouvido sobre o vinho Malbec ou escutado algum comentário sobre um bom Malbec argentino. Esse é um nome que nos soa familiar, às vezes surgindo mesmo fora de um grupo dedicado ao vinho, furando a bolha do interesse comum, frequentemente como um sinônimo de bom vinho.
O vinho Malbec argentino vem ganhando destaque ao longo dos últimos 30 anos a ponto de se tornar muito popular tanto dentro quanto fora de seu país de origem, com essa popularidade se estendendo a outros países vizinhos e, eventualmente, destaque mundial.
Conheça este grande estilo de vinho do Novo Mundo, suas características e a história da sua ascensão!
O que é o vinho Malbec
O vinho Malbec é um varietal feito a partir da uva Malbec, uma variedade de uva roxa usada na produção de tintos e rosés. Suas uvas tendem a ter uma cor escura como tinta e produzem taninos robustos, sendo conhecidas como uma das seis castas permitidas na mistura de vinho tinto Bordeaux, na França.
Sendo originalmente uma uva francesa, hoje em dia as plantações de Malbec em Bordeaux são encontradas principalmente em Cahors, no sudoeste da França, embora a uva seja cultivada em todo o mundo, principalmente na Argentina.
Ainda se estuda a origem da Malbec e de seu nome, pois era originalmente chamada de “Côt” na França e acredita-se ter se originado na região da Borgonha, mas atualmente possui centenas de nomes diferentes, com Malbec sendo o nome mais conhecido pelos consumidores.
A uva Malbec é uma uva de casca grossa e precisa de mais sol e calor do que Cabernet Sauvignon ou Merlot para amadurecer. A uva madura traz coloração profundamente escura e um componente de sabor particular de ameixa que agrega complexidade aos blends na qual é utilizada.
As uvas são cultivadas em um sistema de arbustos que faz com que sejam vinhas de baixo rendimento e maior concentração, gerando vinhos ricos, robustos e suculentos.
O fenômeno do vinho Malbec Argentino no mundo se sustenta pela intensa dedicação de produtores regionais a refinar e qualificar o vinho varietal produzido no país.
A uva se adaptou muito bem ao solo de altitude argentino, com 70% da produção do país vindo da região de Mendoza, o lar da uva no Novo Mundo, rendendo vinhos concentrados, de grande complexidade e intensidade.
História dos vinhos na Argentina
A Argentina tem uma longa tradição vitivinícola e os vinhos são produzidos aqui desde 1500, sendo atualmente o quinto maior produtor de vinho do mundo. O vinho argentino tem suas raízes na Espanha, bem como diversos aspectos da culinária.
Durante a colonização espanhola das Américas, mudas de videiras foram trazidas para Santiago del Estero em 1557, majoritariamente para produção de vinho para consumo e missas. Até muito recentemente, os vinhos argentinos eram exclusivamente nacionais, baseados principalmente nas variedades de uvas de alto rendimento Criolla Grande e Cereza.
A variedade de Malbec foi introduzida na Argentina, na região de Mendoza, pelo engenheiro agrônomo francês Michel Pouget em 1868. As uvas desta região produziam vinhos mais suaves e menos tânicos do que os de Cahors.
No final dos anos 1800, imigrantes espanhóis e italianos inundaram Mendoza para escapar da devastação da praga da filoxera que devastava os vinhedos na Europa na época. Um boom na produção de vinho ocorreu em 1885, quando uma linha férrea foi concluída entre Mendoza e a capital do país, Buenos Aires, proporcionando uma maneira mais barata e fácil de enviar vinhos para fora da região.
Durante a maior parte do século 20, a indústria vinícola argentina concentrou-se quase inteiramente no mercado interno, e foi apenas nos últimos 30 anos que um impulso em direção à qualidade levou os vinhos de Mendoza a enfeitar listas de restaurantes em todo o mundo.
À medida que a indústria vinícola argentina descobriu a qualidade única do vinho que poderia ser feito a partir da uva, o Malbec ganhou maior destaque e é hoje a variedade de uva tinta mais plantada no país. Em 2003 havia mais de 20.000 hectares de Malbec na Argentina. A região de Mendoza é a principal produtora de vinho Malbec na Argentina.
Características do vinho Malbec
A Malbec é uma casta cultivada praticamente em todo o mundo, resultando em diferentes estilos de vinho Malbec. De um modo geral, o Malbec francês tende a ser mais carnudo, rústico e tânico, enquanto os da Argentina parecem ir do brilhante e fresco ao estilo de exportação mais estabelecido; rico, maduro, compota e suculento.
Os aromas de frutas tendem um pouco para o caráter de ameixa do Merlot, em vez da groselha preta do Cabernet Sauvignon. Exemplos mais frescos e leves podem tender mais para frutas vermelhas como morango e amora não madura. No entanto, pode ser a intensidade da cor escura do Malbec que fornece a diferenciação mais clara.
Em ambos os lados do Atlântico, os vinhos Malbec são geralmente envelhecidos em carvalho para melhorar a estrutura do vinho e potencial de envelhecimento. Isso pode dar aos vinhos um caráter de chocolate pronunciado, muito procurado em exemplares argentinos mais ricos.
Na França, o berço da uva, a Malbec é a principal uva de Cahors, na região sudoeste do país. Lá a casta deve constituir um mínimo de 70 por cento de qualquer vinho AOC Cahors, acompanhado por um Merlot rico e redondo e Tannat rústico e tânico. Pela sua cor ganhou a alcunha de “Vinho Preto”.
A Grande Geada de 1956 destruiu a maior parte dos vinhedos de sua terra natal. Em uma nota positiva, no replantio que se seguiu, o Malbec tornou-se ainda mais dominante, diversificando a utilização e promovendo o surgimento de diferentes estilos na região. Mas além da França e norte da Itália a uva é raramente cultivada na Europa.
Nas condições confiáveis de sol e calor argentinas, a Malbec realmente se destacou. Em altitudes mais baixas, a casca da variedade tende a ser mais fina e a fruta macia e flexível – ideal para rosés e tintos produzidos em massa (a maceração carbônica às vezes é usada para criar um vinho Malbec leve e acessível para o verão).
Mais acima, nas encostas mais baixas da Cordilheira dos Andes, a variedade desenvolve uma casca mais espessa e uma concentração mais profunda de sabor. Os vinhos dessas altitudes (principalmente acima de 1000m de altura) são mais aromáticos e de coloração intensa e vibrante, estando entre os mais respeitados de todos os vinhos sul-americanos.
Conheça o Malbec World Day
O Dia Mundial do Malbec é uma festividade anual celebrada em 17 de abril, para comemorar o dia em que Domingo Faustino Sarmiento, então presidente da Argentina, assumiu oficialmente como missão reformar a indústria vinícola da Argentina. Em 17 de abril de 1853, Sarmiento encarregou Michel Aimé Pouget, um especialista francês em solos, de trazer novas vinhas para a Argentina. Entre as variedades que Pouget trouxe estava a Malbec. Pouget continuou experimentando a adaptação de variedades francesas aos diversos terroirs da Argentina. Uma década depois, a Grande Praga dos Vinhos Franceses afetou a região do Rhône, mas todas as variedades levadas por Pouget estavam protegidas e conservadas na Argentina. Já no século seguinte, em 1956, a França enfrentou outro obstáculo quando uma geada destruiu a maioria dos vinhedos de Malbec, efetivamente reduzindo a popularidade da casta entre produtores franceses e europeus no geral.
Nos anos seguintes, especificamente na década de 1990, a Argentina posicionou o Malbec como seu varietal estrela. Mais de 10.000 hectares foram plantados, com o vinho Malbec tornando-se o líder incontestável das exportações e a bebida oficial da Argentina perante o mundo.
Apreciadores de todo o mundo provaram pela primeira vez o vinho Malbec argentino pela primeira vez, apaixonando-se e promovendo a iniciativa. Então em 2011 a Wines of Argentina, responsável pela comunicação da marca do vinho argentino no mundo, estabeleceu o dia 17 de abril como o Dia Mundial do Malbec.
Lis Clément, sua chefe de marketing e comunicação na época, fundou este dia porque estava convencida de que esta celebração ajudaria a posicionar o Malbec como uma das joias do vinho da Argentina.
De excelente qualidade, sempre surpreendente e diversificado, o Malbec argentino abriria caminho para posicionar a Argentina como um dos principais centros enológicos do mundo.
Harmonização do vinho Malbec
O vinho Malbec em geral é denso, rico e robusto, com taninos marcantes que faz com que especialistas pensem imediatamente em carne. Isto está absolutamente correto! Um Malbec vai muito bem com carnes suculentas, grelhadas e o tradicional churrasco gaúcho por exemplo.
Na Argentina é o vinho de escolha para harmonizar com o tradicional bife de Chorizo ou com bife Ancho ao molho chimichurri, de preferência acompanhado de um clássico tango argentino.
Mas a harmonização pode variar muito de acordo com o estilo do vinho. Estilos mais leves e suculentos de vinho Malbec argentino são úteis para todos os gostos, enquanto os mais maduros e pesados combinam com bifes e pratos mais ousados.
Por causa das características de frutas escuras, café e chocolate harmonizam perfeitamente com exemplos mais envelhecidos. Mesmo sobremesas como tiramisu podem funcionar razoavelmente bem se abrir apenas uma garrafa no jantar.
Já o tradicional e tânico vinho tinto de Cahors será suavizado por carnes ricas em proteínas, queijos e pratos à base de nozes. É uma combinação menos óbvia para alimentos grelhados na brasa, pois os taninos mais assertivos dobram com a adstringência da carbonização.
Para opções mais leves como aves levemente temperadas ou refeições vegetarianas a base de vegetais são deliciosamente pareadas por um belo vinho Malbec Rosé argentino, de acidez plena e taninos leves o suficiente para realçar o tempero.
Os melhores vinhos Malbec
Os melhores Malbecs varietais do mundo são os Malbecs de altitude produzidos aos pés da Cordilheira dos Andes nas províncias de Lujan de Cuyo e no Valle do Uco, região de Mendoza na Argentina.
O a questão da elevação é de grande interesse para o mundo do vinho pois com o aumento da altitude, a intensidade da luz do sol aumenta.
O papel desse aumento da intensidade da luz está sendo investigado pelo departamento de pesquisa e desenvolvimento da Bodega Catena Zapata, pioneira no cultivo de vinho Malbec de altitude e um dos mais conceituados produtores do Mundo. Conheça!
Que tal um Malbec da Patagônia? Elaborado pela referência em vinhos argentinos, o enólogo Matias Riccitelli desenvolveu um projeto audacioso, resgatando vinhas plantadas em 1960 na região do Rio Negro na Patagônia.
Elaborado com vinhas de baixo rendimento, repousado 18 meses em barris de carvalho francês, este é um Malbec de inverno fantástico, complexo e opulento, de perfil rústico, remetendo aos tintos de Cahors.
Entre os Top 100 produtores da pela revista Wine Spectator, podemos destacar a família Durigutti e seus Malbecs maturados em ovos de concreto e carvalho, dando uma textura sedosa e estrutura impecável, perfeito equilíbrio entre um perfil robusto e suave.
Também fazendo parte da história da produção do vinho Malbec na Argentina, a Bodega Luigi Bosca tem origem desde 1890 no cultivo nas regiões de Lujan de Cuyo e Valle do Uco. Combinando as duas regiões de produção de Malbec mais conceituadas, seu Luigi Bosca Malbec traz um blend varietal de uvas de ambas as regiões!
E entre as Bodegas Premium de Mendoza, a Kaiken produz um vinho Malbec rosé fresco, de acidez equilibrada e levemente encorpado, 100% Malbec da região de Agrelo. Entre Malbecs acessíveis e de qualidade renomada, este é um dos melhores em relação valor x qualidade.
Conclusão
Definitivamente o vinho Malbec argentino é um dos principais estilos da atualidade. Uma força motriz de transformação na produção argentina, para o deleite dos consumidores, atualmente é possível encontrar vinhos maravilhosos e de qualidade em todas as faixas de preço.
Esta ascensão tem resultado em um interesse renovado, mesmo que tímido, entre os produtores franceses. Podemos esperar novos estilos surgindo em algum momento no futuro.
Mas por enquanto, celebramos os grandes Malbecs argentinos em todas as suas formas. Comemore também o Dia Mundial do Malbec e encontre o seu favorito com a ajuda do Sonoma Market.
