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Quando o brinde é com um vinho sem álcool, por Suzana Barelli

Há uma tendência pelo consumo moderado de bebidas alcoólicas no mundo, Brasil incluído. As razões são as mais diversas, da vontade de ficar no controle da situação em um almoço ou jantar ou de evitar os efeitos do álcool no organismo e até (ou principalmente) por questões de saúde. Esta tendência vem encontrando respaldo nos vinhos sem álcool – em geral, aqueles com no máximo 0,5% de teor alcoólico, conforme as regras de cada país – e nos vinhos de baixo teor alcoólico (até 7,5%).

São categorias ainda pequenas frente aos milhões de garrafas de vinho, mas de crescimento constante. De acordo com dados da consultoria inglesa IWSR Drinks Market Analysis, estes produtos representam 3,5% do volume de bebidas alcoólicas em dez mercados chaves (África do Sul, Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Japão, França e Reino Unido) e crescem ano a ano. Entre destilados, cervejas e vinhos, o setor movimentou US$ 7,8 bilhões em 2018, chegou a US$ 10 bilhões em 2021, e deve continuar em rota ascendente nos próximos anos. “O crescimento no ano passado foi bastante significativo”, afirma Leandro Simões, dono do Empório Sem Álcool, que há duas décadas trabalha com bebidas sem álcool.

É verdade que o processo de desalcoolizar o vinho (e também outras bebidas) visava, num primeiro momento, atender àqueles que não podem consumir estas bebidas por questão de saúde. Neste início, ainda, parecia que pouco importava se o gosto do líquido final era bom ou ruim e sim o sucesso em oferecer uma bebida similar à alcoólica, porém sem álcool. Pouco a pouco, a indústria foi descobrindo que a categoria poderia ser mais ampla e que os aromas e os gostos importam sim. Investimentos cresceram no setor, em equipamentos que permitem retirar o álcool das bebidas e que interferem o mínimo em seu sabor.

A chef Janaína Rueda, por exemplo, se surpreendeu com a procura quando colocou vinhos sem álcool no cardápio dos restaurantes Bar da Dona Onça e A Casa do Porco, os dois em São Paulo. Não foram apenas aqueles que não podem consumir álcool, mas também os que gostam do sabor destes vinhos, que passaram a pedi-los nos dois restaurantes. Há inclusive a oportunidade de harmonizar um menu degustação em A Casa do Porco apenas com bebidas sem álcool.

Em viagem recente para a Espanha, Janaína teve contato com uma máquina que possibilita retirar o álcool da bebida nos próprios restaurante. Aqui, o investimento inviabiliza importar este equipamento, ao menos, por enquanto. Mas, com a procura pelo produto, pode ser questão de tempo que ela chegue aos restaurantes.

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Espumante Zero Álcool da famosa casa Freixenet.

Pesquisa da IWSR, aliás, mostra que 38% daqueles que procuram o vinho sem álcool ou com baixo teor alcoólico querem evitar os efeitos do álcool no organismo, enquanto 33% escolhem estes vinhos porque gostam da bebida – e isso, se você ainda tem a lembrança das primeiras cervejas sem álcool, está na hora de rever os seus conceitos e pode ter certeza que a qualidade melhorou muito. Há ainda 32% que escolhem estas bebidas por estilo de vida; igual porcentagem daqueles que querem diminuir a ingestão de álcool e ter uma vida mais saudável. E 30% elegem os não alcoólicos porque querem estar no controle da situação, seja porque são o motorista da vez de um encontro de amigos, porque estão em um almoço de negócios ou em outra situação em que estar 100% sóbrio é fundamental. Aqui, a pesquisa permitia ao consumidor elencar as diversas opções que o levaram ao consumo da bebida sem álcool por isso a soma das escolhas é superior a 100%.

E há quem afirme que a opção pelo vinho sem álcool ou com baixo teor alcoólico ocorre apenas em algumas situações de consumo, optando pelo vinho “tradicional” em outros momentos.

“O consumidor quer uma vida mais saudável”, afirma Fabiano Ruiz, diretor-executivo da Henkell Freixenet no Brasil. E acrescenta: “Nossas pesquisas mostram um consumidor mais responsável em cuidar da sua saúde.” Esta preocupação se traduz em números: se em 2020, foram importados 12 mil garrafas das versões da Freixenet sem álcool, este volume passou para 77 mil garrafas no ano passado e deve chegar em 100 mil garrafas agora em 2022. O sucesso desta linha também levou a Freixenet a investir no visual da bebida e em breve suas garrafas terão nova roupagem, mais contemporânea.

Dados semelhantes de vendas vem da vinícola espanhola Torres, uma das pioneiras em apostar neste processo de retirar o álcool do vinho. “A marca espanhola Natureo é o desalcolizado mais vendido no mundo”, afirma Carlos Martignago, embaixador da Torres no Brasil. Com vinhedos na Espanha e no Chile, a Torres trabalha tanto com a bebida sem álcool, como a com baixo teor alcóolico. E aqui, ele confirma a pesquisa da IWSR que aponta que o consumidor entende melhor a categoria sem álcool do que a de baixo teor alcoólico – alias, o vinho desalcolizado tem crescimento maior de venda e de participação de mercado do que os de baixo teor alcoólico.

“A maioria dos consumidores quer pagar o mesmo ou até menos por estes vinhos”, destaca a inglesa Emily Neil, COO da IWSR, em recente seminário on-line sobre o tema. Martignago, da Torres, acrescenta que muitos consumidores ainda não entendem esta categoria. “Eles não confiam no vinho sem álcool, acham que é um produto de baixa qualidade, como era a imagem do rosé no passado”, afirma.

E aqui vem uma das chaves para entender a categoria. No seminário, Emily destacou a educação dos consumidores como uma das principais ações que a indústria pode fazer para elevar as vendas da categoria. Atualmente, diz ela, o desconhecimento destes vinhos ainda é muito grande. Também é preciso pensar em novas alternativas de consumo das bebidas sem álcool, pensando que muitos optam por este estilo de bebida em algumas situações e não em todas. Oportunidades existem, cabe às indústrias oferecerem as oportunidades para que o consumidor peça a bebida.

Preocupação com uma vida mais saudável ajuda explicar porque a procura por estes vinhos cresceu durante a pandemia,

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Jornalista especializada em vinhos, Suzana Barelli agora também é colunista especial do Sonoma Market.

Suzana é atualmente colunista de vinhos do caderno Paladar, do jornal O Estado de S.Paulo. Ela escreve de vinhos desde o início dos anos 2.000. Foi editora de vinhos e diretora de redação da Revista Menu, e redatora-chefe da Revista Prazeres da Mesa. Também atuou como jornalista nas revistas Gula, Primeira Leitura e Carta Capital, e nos jornais Folha de S.Paulo e Valor Econômico.

Suzana Barelli

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